O RISCO DO BORDADO


Autor: Autran Dourado
Título: O RISCO DO BORDADO, PATTERN FOR A TAPESTRYLE, PORTAIL DU MONDE
Idiomas: port, eng, fra
Tradutor: John M. Parker(eng), Jacques Thiériot(fra)
Data: 26/12/2004

O RISCO DO BORDADO

1


Viagem à Casa da Ponte

Autran Dourado

Foi Zito quem contou como era por dentro a Casa da Ponte. Não podia acreditar, não acreditava se não fosse Zito. Um menino daquela idade entrar na casa da Ponte! Se fosse Tuim por exemplo, João tinha dado uma boa gargalhada. Tuim era fino e ligeiro na mentira. Com Zito era diferente, tinha de acreditar.
A Casa da Ponte, o mundo fechado, o reino proibido. O casarão prenhe, as muitas janelas de dia sempre cerradas, o casarão prenhe de segredos, suspenso em sortilégio, as janelas acesas durante quase toda a noite – luzes vermelhas e azuladas – o casarão prenhe de segredos jamais revelados povoava feito uma girândola de muitas cores a insônia do menino. Não podia dormir, o coração miúdo se enchia de sobressaltos e medos.
Os elementos com que fabricava os seus sonhos diurnos eram poucos e esgarçados, não davam para ele ter uma visão total. Eram pedaços de conversa pescados por acaso, vultos vistos furtivamente correndo quando ele passava perto do casarão. Nunca parava nas proximidades da Casa da Ponte, com medo que o vissem. O que é que você está fazendo aí, podiam perguntar e ele estaria perdido, descoberto.
Mesmo as famosas habitantes da Casa da Ponte, segregadas e famosas, tão diferentes das outras mulheres de Duas Pontes (desde longe podia reconhecê-las, quando saíam na rua para as compras, espairecendo a modorra, gatas na tarde) perdiam à luz do dia muito da legenda dourada. Mesmo assim João as seguia de uma certa distância, acompanhava os passos bamboleantes, os quadris cheios remexendo provocadores, via os olhares que os homens lançavam para elas, os ditos quando elas se aproximavam, as chacotas, os risos.
Se cruzavam com elas, as mulheres casadas desciam da calçada da calçada, viravam ostensivamente a cara. Elas eram a chaga, o pecado, a perdição de Duas Pontes. Muitas das casadas, se pudessem, a dignidade permitindo, teriam contas a ajustar com elas. E cobrariam então velhas dívidas: o que tinha sido feito do amor de seus maridos, por que havia agora veneno no carinho dos seus filhos?
Na Casa da Ponte é que elas realmente viviam, viviam uma vida mítica. Eram como ninfas: de noite à luz de candeias volantes, saíam a cantar pelos bosques.
Quando acontecia encontrá-las, João dizia baixinho os nomes embalsamados: Zilá, Violeta, Felícia, Ciganinha, Lina, Teresinha Virado. Ai, meu Deus, Teresinha Virado!
Teresinha Virado, talvez porque a mais nova, talvez por causa dos cabelos sedosos, talvez pelas sugestões escondidas no nome, tinha o condão de movimentar a máquina dos sonhos. Urutau, mandalua purgando à luz da lâmpada azulada. Ele teria medo de se aproximar de Teresinha Virado, ela por acaso o chamando alguma vez, lhe dirigindo a palavra na rua, ela que nunca sequer tinha reparado nele.
Mas de noite, choralua, quando o mundo se apagava, a carne fremia quente, era o nome que ele repetia. Teresinha Virado, Teresinha Virado, ai Teresinha Virado! E as mãos trêmulas, o peito arfando, os olhos compridos e macerados, via a Casa da Ponte iluminada – lâmpadas azuis e avermelhadas, pasto de memoráveis fantasias.
Só acreditou porque tinha sido Zito quem falou. Outro qualquer, Tuim por exemplo, muito mentiroso, faria o gesto tá que eu acredito! Não era nenhum bolo para ficar ouvindo campo queimado de Tuim. Com Zito era diferente, Zito tinha autoridade sobre ele, de uma certa maneira avançara muito em sabença e sisudez.
Pouco mais velho do que ele, aos quinze anos Zito já tinha assumido encargo na vida. João se preparava na época para prestar exame de admissão em São Mateus, Zito não podia ir, teve mesmo de abandonar os estudos com dona Felícia e buscar a sua trilha na vida. Com a morte do pai pouco depois, sem posses, a pobreza se agravou por demais na casa de Zito. Foi trabalhar na loja de seu Bernardino.
João, seu melhor amigo, o dia inteiro juntos, se viu privado de sua companhia nas férias. Não podiam mais esticar pela cidade, pelos matos, pelas grotas, a sua vadiagem de meninos.
Agora João tinha de praticar sozinho as suas reinações ou então ir procurar outros meninos. Tuim por exemplo, com Tuim não tinha graça nenhuma. João logo se entediava, com Zito é que era gostoso.
E muitas vezes ia para a loja de seu Bernardino, ficava assustando os fregueses que por ali faziam ponto, até que Zito dizia vem cá, João, me dá uma mão nestas peças de fazenda. Ficavam em silêncio, seu Bernardino era muito zeloso dos serviços dos empregados. Mesmo assim melhor do que com Tuim, se sentia compensado, solidário.
Não diga, disse João segurando uma peça de brim. Você foi mesmo? Me conta. Depois, lá fora, disse Zito baixinho olhando de viés para seu Bernardino.
João ia empilhando as peças de brim e divagava longe. Não é possível, como é que Zito foi na Casa da Ponte? Zito era sério e compenetrado, bem taludo e espichado é verdade, mas pouco mais velho do que ele, as mulheres não deixariam ele entrar. De noite então, de jeito nenhum! Só se tivesse sido de dia. Mas como, por causa de quê? Todo mundo sabia que seu Bernardino tinha mulher na casa da Ponte, não era novidade. Quem sabe Zito não foi levar algum recado para Lina, a amante de seu Bernardino? Não, de jeito nenhum, nem vê, seu Bernardino era homem sisudo, se dava ao respeito, não ia mandar Zito levar recado nenhum. Só se fosse mentira de Zito. Mas Zito não era de mentir nem de contar vantagem. Tuim, sim. Um dia ainda vou lá passear a minha prosa, dizia Zito quando os dois contavam histórias que tinham ouvido, negociavam a moeda do sonho. Ele, João, nunca que teria coragem de dizer para os outros uma coisa dessas. Dizia só para si, ruminava o pensamento manso. Zito tinha muita ousadia de sonhar, de dizer. Quem sabe foi mesmo? Não deixavam entrar, um menino. Quinze anos era muita coisa, mas para elas Zito ainda era um menino. Quem sabe ele, corajoso agora, sério por causa do emprego na loja, não tinha ido lá por contra própria perguntar qualquer coisa com ar de desentendido? Não, quem vê! E o medo de tudo vir bater nos ouvidos de seu Bernardino? Estive lá na casa da Ponte, foi só o que disse Zito. Não podia ter escutado mal, ouvir claramente. Zito tinha aberto a porteira do mundo. João ruminava, destilava. Zito agora conhecia um mundo muito maior do que ele. Podia ser até um daqueles viajantes de guarda-pó branco que passavam de trem por Duas Pontes. Não bastasse o emprego na loja, que de uma certa maneira o tornava mais sério e mais velho, ainda por cima Zito agora podia dizer como eram de verdade as mulheres. Na sua morada, na intimidade quente. Querendo, ele podia até contar vantagem. Mas Zito não era disso, repetia João tentando se convencer.
(…)

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Fonte: DOURADO, Autran. O Risco do Bordado. 12ª. ed. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991, p. 13-16.

PATTERN FOR A TAPESTRY

I


JOURNEY TO BRIDGE HOUSE

Autran Dourado

It was Zito who told him what Bridge House was like inside. He couldn’t believe it, wouldn’t have if it hadn’t been Zito. A boy of that age go into Bridge House! If it’d been Tuim, for example, João would have laughed outright. Tuim was smart and quick with his lies. But Zito was different, he had to believe him.
Bridge House, a hidden world, a forbidden realm. The big house heavy, its many windows closed during the daytime, the big house heavy with secrets, suspended in a veil of magic, its windows lit up throughout the night – red and bluish lights – the big house heavy with undisclosed secrets filled the boy’s sleepless nights like a many-coloured catherine wheel. He couldn’t sleep, his little heart swelling with fears and sudden frights.
The details from which he fashioned his daydreams were few and sketchy, not enough for him to form a complete picture. They were snatches of conversation picked up by chance, figures seen hurrying furtively when he was passing by the big houses. He never stopped in the vicinity of Bridge House, for fear of being seen. What are you doing here, they might ask and he would be done for, found out.
Even the famous inhabitants of Bridge House, secluded and famous, so different from the other women of Duas Pontes (you could recognize them from a distance, when they came out into the street to go shopping, airing their drowsiness, she – cats in the afternoon sun) lost a good deal of the gilt of legend in the daylight. Even so João followed them at a distance, keeping pace with their swaying walk, eyeing the provocative wiggle of their buxom hips, and noted the looks the men gave them, the remarks when they came closer, the banter, the laughter.
If the married women met them on the street, they would step off the pavement and look very obviously the other way. They were the canker, the sin, the perdition of Duas Pontes. Many of the married women, if they could, if dignity would allow them, would get even with them. Then they would settle old scores: what had happened to their husbands’ love, who had poisoned their sons’ affection?
Bridge House was where they came to life. They lived in a world of myths. Like nymphs, they came out at night and went singing in the woods by the light of flying lanterns.
When he happened to see them, João would silently repeat to himself their perfumed names: Zilá, Violeta, Felicia, Ciganinha, Lina, Teresinha Virado. Oh God, Teresinha Virado!
Perhaps because she was the youngest, perhaps because of her silken hair, or maybe on account of the allusions hinted at in her name , there was something about Teresinha Virado that set in motion the engine of his dreams. Whippoorwill, nighthawk scourging himself by the light of the blue lamp. He would be afraid of approaching Teresinha Virado, should she ever call him, speak to him in the street. But she had never so much as noticed him.
At night, though, whippoorwill, when the world fell silent his flesh throbbed feverishly and it was her name he murmured again and again. Teresinha Virado, Teresinha Virado, oh Teresinha Virado! His hands trembled, his chest heaved, a faraway look in his sunken eyes, which could see Bridge House ablaze with light – blue and reddish lamps, breeding ground of memorable fantasies.
He only believed it because Zito told him. If it’d been anyone else, that liar Tuim for instance, he’d have made the rude gesture that means go tell it to your granny! He wasn’t fool enough to stay and listen to Tuim’s fairy tales. But Zito was different. He looked up to Zito, somehow he had shot ahead in know-how and shrew dness.
Only slightly older than João, by the time time he was fifteen Zito has already shoul deres liabilities in life. At the time João was studying for the entrance exam to go to São Mateus. Zito couldn’t go, he had to give up studying with Dona Felicia and find his own way in life. His father died soon afterwards, leaving nothing, and things got very hard at Zito’ s house. He went to work at Seu Bernardino’s shop .
João, his best friend, together all day long, found himself without Zito’s company in the holidays. No more loafing around the town, the woods, the caves, spinning our their boyhood leisure.
Now João had to get up to his tricks by himself or go and look for other lads. Tuim, for example. It was no fun with Tuim though, João soon got fed up. With Zito it was great.
Often he would go to Seu Bernardino’s shop and stand watching the customers who hung around there chatting, until Zito said come and give me a hand with these bales of cloth, João. They worked in silence, Seu Bernardino kept a sharp eye on his assistants. Even so it was better than being with Tuim, he felt he got something out of it, a feeling of companionship.
You don’t mean it, said João, handling a bale of denim. Did you really go? Tell me about it. Later, outside, muttered Zito with a sideways glance at Seu Bernardino.
João went on stacking the bales of denim, but his thoughts were miles away. It’s not possible, how can Zito have been to Bridge House? Zito was serious and self-assured, well built and quite tall it’s true, but only a little older than him, the women wouldn’t let him in. And at night, not on your life! Only if it’d been during daytime, perhaps. But how, what for? Everyone knew that Seu Bernardino had a mistress at Bridge House, there was nothing new in that. Maybe Zito went to take a message to Lina, Seu bernardino’s mistress. No way, not a chance surely, Seu Bernardino was a discreet man, concerned with appearances, he wouldn’t send Zito running errands. Perhaps Zito was fibbing. But Zito wasn’t given to telling lies or boasting. Not like Tuim. One of these days I’ll go up there and chat them up, Zito would say when the two of them were telling stories they’d heard, swapping dreams. João, he would never have the courage to say a thing like that in front of the others. He’d say it just to himself, mulling over the thought quietly. Zito had daring thoughts, and came out with them. Maybe he went after all. They wouldn’t let him in, a boy. Fifteen was quite an age, but to them Zito was still a boy. Maybe, though, he had the nerve, more grown-up now he was working in the shop, and had gone there on his own account to ask for information as if he didn’t realize what the place was? No, how could he? Wouldn’t he be afraid of it getting back to Seu Bernardino’s ears? I was at Bridge House, that was all Zito said. He couldn’t have heard him wrong, he heard quite clearly. Zito had opened the gateway onto the world.
João was thinking things over, letting them trickle through his mind. Zito’s knowledge of the world was now greater than his. He was like one of those travellers in white smacks who went through Duas Pontes on the train. As if his job in the shop were not enough, making him somehow older and more serious, on top of that Zito could now tell him what women were really like. Where they lived, in the warmth of their privacy. If he wanted, he could boast about it as well. But Zito wasn’t like that, João said to himself again, trying to convince himself.
(…)

Teresinha Virado, whose surname is not a family name in Brazil, being a creation of Dourado’s, is so called because she ‘turns’ João’s head and because she is ‘flighty’, a ‘giddy girl’ one might say, meanings contained in the verb virar and the participial adjective virado.

The form ‘seu’ (cf. Senhor) is common in the interior of Brazil, but is widely used even in the bigger cities of the more conservative north and north-east of the country. Used particularly with first names, it indicates a curious mixture of respect and familiarity. It is not really translatable and I have opted for keeping it as it stands, whenever I felt it could not be omitted.

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Fonte: DOURADO, Autran. Pattern for a Tapestry: A Novel. Translated from the Portuguese by John M. Parker. London, Peter Owen Publishers, 1984, p. 13-16.

LE PORTAIL DU MONDE

I


Voyage à la Maison du Pont

Autran Dourado

C’est Zito qui lui avait raconté comment c’était à l’intérieur de la Maison du Pont. Il n’arrivait pas à y croire, il ne croyait personne excepté Zito. Un gamin de cet áge entrer dans la Maison du Pont! Si c’était Tuim, par exemple, João aurait rigolé un bon coup. Tuim était roublard et rapide dans le mensonge. Avec Zito c’était différent, il fallait le croire.
La Maison du Pont, le monde fermé, le royaume défendu. La demeure grosse, ses nombreuses fenêtres de jour toujours fermées, la demeure grosse de secrets, dans le suspends d’un sortilège, les fenêtres allumées durant presque toute la nuit – lumières rouges et bleutées – la demeure grosse de secrets jamais révélés peuplait comme une girandole de toutes les couleurs l’insomnie du petit garçon. Il ne pouvait pas dormir, son cœur menu s’emplissait de sursauts et de peurs.
Les éléments avec lesquels il fabriquait ses rêves diurnes étaient peu nombreux et fragmentaires, ils ne lui permettaient pas d’avoir une vision complète. C’étaient des bouts de conversation attapés par hasard, des silhouettes qu’il entrevoyait furtivement, à la sauvette quand il passait près de la demeure. Il ne s’arrêtait jamais dans les parages de la Maison du Pont, de crainte d’être vu. Qu’est-ce que tu fais là, on pouvait lui demander et il serait perdu, percé à jour.
Certes les fameuses habitantes de la Maison du Pont, recluses et fameuses, si différentes des autres femmes de Duas Pontes (de loin on pouvait les reconnaître, quand elles sortaient dans la rue pour des achats, distraire leur indolence, pimpantes dans l’après-midi), à la lumière du jour perdaient une grande part de leur légende dorée. Pourtant João les suivait à une certaine distance, accompagnait leur démarche chaloupée, leurs hanches pleines qui se trémoussaient provocantes, il voyait les regards que les hommes leur lançaient, les propos quand elles s’approchaient, les quolibets, les rires.
Si elles les croisaient, les femmes mariées descendaient du trottoir, détournaient ostensiblement le visage. Elles étaient la plaie, le péché, la perdition de Duas Pontes. De nombreuses épouses, si elles pouvaient, et si leur dignité leur permettait, auraient des comptes à régler avec elles. Et alors elles leur feraient payer de vieilles dettes: qu’avait-on fait de l’amour de leurs maris, pourquoi y avait-il maintenant du poison dans la tendresse de leurs enfants?
C’est dans la maison du Pont qu’elles vivaient réellement, elles vivaient une vie mythique. Telles des nymphes: la nuit à la lumière de chandeliers volants, elles sortaient chanter dans les bois.
Quand il lui arrivait de les rencontrer, João disait tout bas leurs noms embaumés: Zila, Violeta, Felicia, Ciganinha, Lina, Teresinha Virado. Ah, mon Dieu, Teresinha Virado!
Teresinha Virado, peut-être parce qu’elle était la plus jeune, peut-être à cause de ses cheveux soyeux, peut-être à cause des sous-entendus suggestifs de son nom, avait le don de mettre en marche la machine des rêves. Ouroutaou nocturne, hibou se purgeant à la lumière de la lampe bleutée. Il aurait peur de s’approcher de Teresinha Virado, au cas où un jour elle l’appellerait, lui adresserait la parole dans la rue, elle qui ne lui avait jamais prêté la moindre attention.
Mais la nuit, oiseau de lune, quand le monde s’éteignait, sa chair brûlante frémissait, c’était le nom qu’il répétait: Teresinha Virado, Teresinha Virado, ah! Teresinha Virado! Et les mains tremblantes, la poitrine haletante, les yeux écarquillés et mortifiés, il voyait la maison du Pont illuminée – lampes bleues et rougeâtres, pâtis de mémorables fantaisies.
Il ne le crut que parce que c’était Zito qui l’avait dit. A un autre, Tuim par exemple, fieffé menteur, il aurait fait le geste: mon œil! Il n était pas bête, il n’allait pas écouter les craques de Tuim. Avec Zito c’était différent. Zito avait de l’autorité sur lui, d’une certaine façon il était très avancé question jugeote et astuce.
Un peu plus âgé que lui, à quinze ans Zito avait déjà assumé une charge dans la vie. A l’époque, João se préparait à passer un examen d’admission à São Mateus. Zito ne pouvait pas y aller, il avait même été obligé d’abandonner les cours de dona Felicia et de chercher sa voie dans la vie. Avec la mort de son père peu après, sans laisser de biens, la pauvreté était devenue trop dure à supporter dans la maison de Zito. Il était allé travailler au magasin de m’sieu Bernardino.
João, son meilleur ami, toute la journée ensemble, se vit privé de sa compagnie pendant les vacances. Ils ne pouvaient plus continuer leurs vadrouilles de gamins dans la ville, les forêts et les grottes.
Désormais João devait se livrer tout seul à ses polissonneries ou bien alors chercher d’autres gamins. Tuim, par exemple, avec Tuim c’était pas marrant du tout, João tout de suite s’embêtait, c’est avec Zito qu’il se plaisait.
Alors souvent il allait au magasin de m’sieu Bernardino, il restait là à observer les clients qui le fréquentaient, jusqu’à ce que Zito lui dise amène-toi, João, file-moi un coup de main pour ces prèces de tissu. Ils gardaient le silence, m’sieu Bernardino était très pointilleux sur le travail des employés. De toute façon c’était mieux qu’avec Tuim, il se sentait soutenu, solidaire.
Sans blague, dit João en empoignant une pièce de coutil, tu y as vraiment été? Raconte. Tout à l’heure, dehors, dit Zito tout bas en regardant à la dérobée m’sieu Bernardino.
João empilait les pièces de cutil et sa tête battait la campagne. C’est pas possible, comment est-ce que Zito a été à la Maison du Pont? Zito était sérieux et sûr de lui, costaud et bien découplé c’est vrai, mais à peine plus âgé que lui, les femmes ne le laisseraient pas entrer. Alors la nuit, pas question! Seulement peut-être de jour. Mais comment, pour quel motif? Tout le monde savait que m’sieu Bernardino avait une femme attitrée à la Maison du Pont, c’était pas une nouveauté. Peut-être que Zito avait été porter une commission pour Lina, la bonne amie de m’sieu Bernardino? Non, pas du tout, pensez-donc, m’sieu Bernardino était un homme avisé, il avait le respect des convenances, il n’allait pas envoyer Zito porter la moindre commission. A moins que ce soit une menterie de Zito. Mais Zito n’était pas capable de mentir ni de se vanter. Tuim, oui. Un de ces jours je vais sortir mon baratin, disait Zito quand tous les deux se racontaient les histoires qu’ils avaient entendues, échangeaient la monnaie du rêve. Lui, João, il n’aurait jamais le courage de dire aux autres une chose pareille. Il ne la disait qu’à lui-même, il ruminait ses pensées tranquilles. Zito avait une grande hardiesse de rêver, de dire. Peut-être qu’il y était allé pour de bon? Elles ne le laisseraient pas entrer, un gamin. Quinze ans ça comptait déjà, mais pour elles Zito était encore un gamin. Est-ce que du coup intrépide, sérieux à cause de son emploi au magasin, il était vraiment allé là-bas de lui-même demander un truc quelconque avec mine d’ingénu? Non, pas pensable! Et la peur que tout vienne aux oreilles de m’sieu Bernardino? J’ai été à la Maison du Pont, c’était tout ce qu’avait dit Zito. Il ne pouvait pas avoir mal entendu, il avait clairement entendu. Zito avait ouvert le portail du monde.
João remâchait, distillait. Zito maintenant connaissait un monde plus grand que le sien. Il pouvait même devenir un de ces commis voyageurs en cache-poussière blanc qui passaient en train par Duas Pontes. Non seulement il avait un emploi au magasin, qui d’une certaine façon le rendait plus sérieux et plus âgé, mais par-dessus le marché Zito maintenant pouvait dire comment étaient vraiment les femmes. Dans leur logis, leur intimité chaude. S’il voulait, il pouvait même crâner. Mais ce n’était pas le genre de Zito, se répétait João pour essayer de se convaincre.
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Fonte: DOURADO, Autran. “Voyage à la Maison du Pont”. In: Le Portail du Monde. Traduit du portugais (Brésil) par Jacques Thiériot. Paris, Éditions Metailié, 1994, p. 11-15.