O país do carnaval


Autor: Jorge Amado
Título: O país do carnaval, Il paese del carnevale
Idiomas: port, ita
Tradutor: Paolo Collo e Daniela Ferioli(ita)
Data: 28/12/2004

O PAÍS DO CARNAVAL
I

Jorge Amado

Entre o azul do céu e o verde do mar, o navio ruma o verde-amarelo pátrio.
Três horas da tarde. Ar parado. Calor.
No tombadilho, entre franceses, ingleses, argentinos e ianques está todo o Brasil (Evoé, Carnaval! ).
Fazendeiros ricos de volta da Europa, onde correram igrejas e museus. Diplomatas a dar idéia de manequins de uma casa de modas masculinas… Políticos imbecis e gordos, suas magras e imbecis filhas e seus imbecis filhos doutores.
Lá no fundo, namorando o mistério das águas, uma francesa linda como as coisas caras, aventureira viajada, da qual se dizia conhecer todos os países e todas as raças, o que equivale a dizer que conhecia toda espécie de homem, tolera, com um sorriso condescendente, o galanteio juliodantesco de uma dúzia de filhos-família brasileiros e argentinos:
– A senhorita é linda…
– Minha vida pela sua vida…
– Faça um sinal e me atirarei n’água!
– Eu queria que o navio naufragasse para poder provar quanto a amo…
Tudo isso era dito em mau francês, num mau francês de causar inveja aos rapazes que lêem Dekobrá e têm por Tiradentes uma grande paixão patriótica.
Toda essa gente sua muito debaixo da elegância das suas roupas quentes, feitas em Londres e Paris a preços elevados.
Toda a gente, menos a francesa, que traja um vestido simples de musselina branca. É, em verdade, bela. Olhos verdes como o mar e pele alva. Não admira que aqueles tropicais brasileiros e argentinos gastem com ela a sua retórica, tão precisa à Pátria.
Adiante, um senador, um fazendeiro, um bispo, um diplomata e a senhora do senador conversam na boa paz burguesa dos que têm o reino da terra e a certeza de comprarem o do céu.
– Sim – diz o fazendeiro – foi regular a safra. Mas os preços…
– Ora, coronel, o senhor quer dizer a mim? … Mesmo pelo preço em que está, o café continua a dar um lucro fabuloso É a riqueza de São Paulo e a do Brasil.
– Mesmo porque o Brasil é São Paulo! – fez a senhora do senador, bairrista de irritar.
– Oh, minha senhora! Perdoe-me se discordo de V. Ex.ª mas…
Era o diplomata que falava, Primeiro-Secretário de Embaixada em Paris, ainda estava inédito o seu primeiro serviço à Pátria. Nascera na Bahia, e trazia no sangue e no cabelo a marca dos deboches de avôs portugueses com avós africanas.
– … mas há outros grandes Estados… Olhe a Bahia, minha senhora. A Bahia, veja V. Ex.ª, produz tudo … Cacau. Fumo. Feijão. E produz homens, minha senhora, grandes gênios… Rui Barbosa era baiano…
– Mas hoje, doutor…
– Oh! minha senhora, não diga… Ainda hoje grandes talentos…
E o bispo, conciliador:
– O doutor mesmo é uma prova…
– Amabilidade do senhor bispo… A Igreja sempre caridosa…
O senador, com o prestígio que lhe dava a posição, resumiu toda a conversa:
– É o país de mais futuro do mundo!
– Perfeitamente! – falou um rapaz que chegara no momento. – O senhor acaba de definir o Brasil. (O senador sorriu baboso.) O Brasil é o país verde por excelência. Futuroso, esperançoso… Nunca passou disso… Vocês, brasileiros, velhos que já foram e rapazes que são a esperança da Pátria, sonham o futuro. “Dentro de cem anos o Brasil será o primeiro país do mundo”. Garanto que aquele detestável cronista Pero Vaz de Caminha teve essa mesma frase ao achar Cabral, por um acaso, o país que viera expressamente descobrir.
– Não! – protestou o diplomata. Elevando num gesto oratório a mão ao peito – Hoje, todo estrangeiro conhece, graças ao nosso corpo diplomático, sem modéstia, o grande, o portentoso Brasil!
– Entretanto, aquela francesinha que conhece o mundo todo, que já teve casa de rendez-vous em Pequim, já foi amante de pretos na Colônia do Cabo e ganhou dinheiro em Monte Carlo, julga que viaja para um país chamado Buenos Aires, que tem por capital o Brasil, uma cidade onde a população anda de tanga, E posso lhe afirmar, senhor bispo, que ela vai até lá exatamente para poder andar de tanga, pois é primitivista.
– Ela é imoral, isto sim.
– Vai ter uma decepção, coitada!
– Mas, Doutor Rigger, pelo menos do ponto de vista religioso, o Brasil tem progredido muito. Hoje…
– Hoje o feitiço domina. No Norte, senhor bispo, a religião é uma mistura de fetichismo, espiritismo e catolicismo. Aliás, eu não acredito que Cristo haja pregado religiões. Cristo foi apenas um romântico judeu revoltoso. Os senhores, Padres e Papas, é que fizeram a religião… Mas se o senhor pensa que essa religião domina o Brasil, está enganado. Há uma falsificação africana dessa religião. A macumba, no Norte, substitui a Igreja, que, no Sul, é substituída pelas lojas espíritas. No Brasil a questão de religião é uma questão de medo.
A senhora do senador, escandalizada, benzia-se. O diplomata sorria par vaidade. O bispo, que era inteligente, quis protestar. Não houve, porém, tempo. Um rapaz de bordo agitava uma sineta enorme chamando para o lanche.
E todos obedeceram a Sua Majestade, o Estômago.

* * *

No tombadilho, Paulo Rigger abandonou-se aos seus pensamentos. Estava de volta ao Brasil depois de sete anos de ausência. Ainda estudante de ginásio morrera-lhe o pai, riquíssimo fazendeiro de cacau no sul do Estado da Bahia, a última vontade do velho Rigger foi que mandassem o seu rapaz formar-se na Europa. E, terminado o curso ginasial, Paulo seguiu para Paris em busca de um anel de bacharel. O velho Rigger queria o filho formado. Mas já estava muito banal a formatura no Brasil. Só poderia fazer sucesso um doutor da Europa.
Paulo Rigger, em Paris, como é natural, fez tudo, menos estudar Direito. Ao formar-se era um blasé, contaminado de toda a literatura de antes da guerra, um gastador de espírito, que tinha amigos entre os intelectuais e freqüentava as rodas jornalísticas, fazendo frases, discutindo, sempre em oposição.
A atitude oposta era sempre a sua atitude. Não chegara, muito francês que era, a fazer uma base para a sua vida. Não tinha filosofias e fazia blagues acerca do espírito de seriedade da geração que surgia. Dizia que o homem de talento não precisa de filosofia.
Aos vinte e seis anos, era o tipo do cerebral, quase indiferente, espectador da vida, tendo perdido há muito o sentido de Deus e não tendo achado o sentido de Pátria.
Frio, não se emocionava. Tinha prazeres diferentes: amava ser contra as idéias dos seus vizinhos de mesa e gostava de estudar almas.
Correra todo Paris, dos mais aristocráticos salões aos mais sórdidos cabarés, numa volúpia de escalpelar as almas, pôr-lhes à mostra sentimentos, estudá-las…
Assim, pensava, no dia em que houvesse “um caso” na sua vida, estaria preparado para enfrentá-lo, estudá-lo, dissecá-lo. Usava monóculo porque diziam que o monóculo já havia caído da moda. Aprendera em Paris a vestir-se rom muita elegância e a satisfazer todos os seus desejos.
Sibarita, tinha pelos seus instintos uma quase adoração. Conhecia, assim, todos os vícios. No seu olhar cansado, muito triste, parecia viver a tragédia do homem que esgotou todas as volúpias e não se satisfez.
Nos seus lábios finos bailava sempre um sorriso mau, de escárnio, que irritava.
Já descrera da felicidade. No fundo, entretanto, Paulo Rigger sentia que era um insatisfeito. Compreendia que faltava qualquer coisa na sua vida. O quê? Não o sabia. Isso torturava-o. E dedicava toda a sua vida à procura do Fim. “Sim, murmurava no tombadilho, olhando as ondas, porque toda vida deve ter, necessariamente, um Fim… Qual?”
Mas o mar, indiferente, não lhe respondia. O sol que morria desenhava no horizonte paisagens berrantes. O sol foi o primeiro cubista do mundo…

* * *

|Ao jantar, a francesinha sorria-lhe. Havia no seu sorriso uma promessa enlouquecedora de volúpias incríveis. E Paulo Rigger ficou a idealizá-la nua. Devia ser linda… Aquela mulher, tão jovem e tão conhecedora da vida, devia ser uma requintada. E jurou conhecê-la.
No tombadilho, cia sorria ingênua do ingênuo brinquedo das ondas.
Paulo Rigger aproximou-se.
– Mademoiselle…
– Mademoiselle, não. Julie, sim,
– Ah, Julie, você e adorável!
– Só isso que você me diz? Isso me disseram todos aqueles rapazes que me galanteavam há pouco. Eu pensei que você tivesse qualquer coisa mais nova para me dizer…
– Sim, tenho. Quero lhe dizer que os seus olhos prometem coisas absurdas, mas eu conheço todas as coisas absurdas e duvido muito que você me dê qualquer coisa nova.
– Hoje à uma hora. A porta do meu camarote estará aberta… Esperá-lo-ei.

* * *

No seu camarote, Paulo Rigger pensava se devia ir ao encontro de Julie. Uma grande lassidão invadia-lhe os membros. Pensou em Julie. E teve medo dos seus olhos. Não, não iria. Aquela mulher era capaz de se agarrar a ele como uma sarna, no Brasil. E, demais, ela não passava de uma rameira conhecida. Uma mulher que amava por dinheiro, sem amor. Que lhe poderia dar de novo? Prazer, ele conhecia muito. Carne… Mas o amor talvez não fosse somente carne… Talvez fosse alguma coisa mais… Essa outra coisa, ele não conhecia. Afirmava até que ela não existia. Existisse ou não, a francesinha não lhe poderia dar. Daria somente o sexo… E do mesmo modo de sempre. Bolas! Não iria lá…
E Julie esperou por toda a noite, nua, a sonhar volúpias incríveis, Depois, chorou de raiva, mordendo o travesseiro… Afinal, xingava-o, era um animal. Não sabia que ela reservara para ele as carícias que nunca vendera a ninguém… Imbecil!
E Paulo Rigger sonhava que tinha uma namorada romântica que lia Henri Ardel e tocava valsas muito sentimentais ao piano.
No outro dia, o grito da descoberta:
– Terra! Terra!
Lá longe, o País do Carnaval.

______________

Fonte: AMADO, Jorge. O país do carnaval. 46ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987. p. 11 –18.

IL PAESE DEL CARNEVALE

I

Jorge Amado

Fra l’azzurro del cielo e il verde del mare, la nave, verde-gialla, ostenta i colori nazionali. Le tre del pomeriggio. Aria immobile. Caldo. In coperta, tra francesi, inglesi, argentini e yankees c’e tutto il Brasile (Evoè, carnevale!).
Ricchi piantatori di ritorno dall’Europa dove hanno corso chiese e musei; diplomatici che paiono indossatori in una sfilata di moda maschile… Uomini politici cretini e grassi, con le figlie magre e cretine e i figli cretini e laureati.
In fondo, persa a contemplare il mistero delle acque, una francese dalla bellezza di oggetto di lusso, avventuriera costantemente in giro per il mondo, di cui si sussurra che conosca ogni paese e ogni razza: quanto dire che conosce ogni tipo di uomini. Con un sorriso condiscendente, accetta facendo buon viso le galanterie stantie di una mezza dozzina di ragazzotti, figli di famiglie bene, brasiliani e argentini.
«Lei è molto bella…»
«La mia vita per la sua…»
«Faccia un solo cenno e mi butto in acqua! …»
«Vorrei che la nave colasse a picco per dimostrarle quanta l’amo…»
Il tutto in un francese tanto scadente da fare invidia ai ragazzini che leggono Dekobra e hanno per Tiradentes una grande passione patriottica.
Sudano tutti profusamente, nell’eleganza degli abiti pesanti comprati a caro prezzo a Londra e a Parigi.
Tutti. meno la francesina che indossa un semplice abito di mussola bianca. È bella veramente: occhi verde-mare, pelle candida. Non c’è da stupire che il gruppo tropicale di brasiliani e argentini spenda con lei la retorica tanto necessaria a servizio della patria.
Più in là un senatore, un fazendeiro, un vescovo, un diplomatico e la moglie del senatore chiacchierano nella buona pace borghese di chi possiede il regno della terra e la certezza di potersi comprare quello del cielo.
«Sì» dice il fazendeiro, «per il raccolto non c’è stato male. Ma i prezzi…»
«Via, colonnello, la vuol dar da bere a me? … Anche al prezzo attuale, il caffè continua a dare dei guadagni da capogiro… È la ricchezza di São Paulo, e del Brasile.»
«Anche perché il Brasile è São Paulo!» intervenne la moglie del senatore, campanilista in modo irritante.
«Mia cara signora! Voglia scusarmi se mi trovo in disaccordo con lei, ma…»
Era il diplomatico a parlare. Primo segretario d’ambasciata a Parigi, non aveva ancora reso alla patria il suo primo servigio di rilievo. Era nativo di Bahia, e nel sangue e nei capelli crespi portava traccia delle libertà che i suoi antenati portoghesi si erano presi con le sue bisavole africane.
«… ma ne esistono altri, di grandi stati. Guardi Bahia per esempio. Veda, Eccellenza, Bahia produce di tutto… dal cacao al tabacco, ai fagioli. E uomini, signora mia, uomini di genio… Rui Barbosa era bahiano…»
«Al giorno d’oggi, però, dottore…»
«Non dica di no, signora. Ancor oggi esistono a Bahia persone di grande talento.»
Interveniva il vescovo, conciliante:
«Lei, dottore, ne è una prova.»
«Troppa bontà di monsignor vescovo… La Chiesa è sempre caritatevole.»
Il senatore, con l’autorità che gli dava la sua posizione, riassumeva la conversazione:
«È il paese con il più grande avvenire del mando intero!»
«Verissimo!» esclamò un giovane appena arrivato. «Lei ha dato l’esatta definizione del Brasile» (sorriso vanitoso del senatore). «Il Brasile è il Paese Verde per antonomasia: proiettato nel futuro, speranzoso… Peccato che non sia mai andato oltre. Voi vecchi brasiliani che già foste, così come i giovani che sono attualmente la speranza della patria, sognate il futuro. “Entro cent’anni il Brasile sarà il primo paese del mondo.” E vi garantisco che anche quell’odioso cronista, Pero Vaz de Caminha, usò esattamente questa stessa frase, quando Cabral s’imbatté, per caso, nel paese che era venuto apposta a scoprire.»
«Ah no!» protestava il diplomatico portando la mano al petto in posa oratoria. «Oggi, tutti all’estero conoscono, grazie al nostro corpo diplomatico – lo dico senza falsa modestia – tutti conoscono il nostro grande, portentoso Brasile!»
«Eppure quella francesina laggiù, che ha viaggiato in tutto il mondo, e ha avuto una casa d’appuntamenti a Pechino e amanti negri a Città del Capo, e ha messo insieme un gruzzolo a Montecarlo, pensa di essere in viaggio per un paese chiamato Buenos Aires, che ha per capitale Brasile, città dove la gente va in giro in tanga. E le posso assicurare, monsignor vescovo, che è proprio per questo che ci va, per potersi mostrare per strada in tanga, dato che è naturista.»
«Quella non è altro che una donna immorale.»
«Avrà una bella delusione, poveraccia!»
«Però, dottor Rigger, almeno dal punto di vista religiosa il Brasile ha fatto un bel progresso. Oggi…»
«Oggi dominano le religioni feticiste. Nel Nord, monsignore, la religione è un miscuglio di feticismo, spiritismo e cattolicesimo. D’altronde, io non credo che la predicazione di Cristo avesse uno scopo religioso. Cristo non era che un romantico rivoluzionario ebreo. Sono stati lorsignori, preti e papa, a fabbricare una religione… Ma se lei pensa che tale religione sia quella che predomina in Brasile, si sbaglia. Esiste di essa una falsificazione africana. La macumba, nel Nord ha sostituito la chiesa che, a Sud, è sostituita da logge spiritiste. La questione religiosa in Brasile si riduce a una questione di paura.»
Scandalizzata, la moglie del senatore si segnava. Il diplomatico somdeva fatuo. II vescovo, che era un uomo intelligente, tentò di replicare. Ma non ce ne fu il tempo. Un inserviente di bordo, agitando un campanaccio enorme, chiamava per il lunch.
E tutti obbedirono a Sua Maestà la stomaco.

Sul ponte Paulo Rigger seguiva il filo dei suoi pensieri. Tornava in Brasile dopo sette anni d’assenza. Quando era ancora uno srudentello ginnasiale gli era morta il padre, ricchissimo piantatore di cacao del Sud dello Stato di Bahia. L’ultima volontà del vecchio Rigger era stata che mandassero il suo ragazzo a studiare in Europa. Così, terminato il ginnasio, Paulo era partito per Parigi alla ricerca di un diploma di laurea. Voleva un figlio laureato, il vecchio Rigger. Ma una laurea brasiliana era già cosa troppo banale. Un dottore laureato in Europa ci voleva, per avere successo.
A Parigi, naturalmente, Paulo Rigger aveva fatto di tutto, tranne che studiare legge. E quando finalmente si era laureato, era un blasé, contaminato da tutta la letteratura anteguerra, consumatore di motti di spirito, amico d’intellettuali, frequentatore dell’ambiente giornalistico, a far frasi eleganti, a discutere per il piacere della discussione, perennemente all’opposizione.
L’atteggiamento opposto era sempre il suo. Non era giunto, cosa molto francese, a dare una base stabile alla propria vita. Non aveva nessuna filosofia, e faceva blagues sullo spirito serioso della nuova generazione. Sosteneva che l’uomo di talento non ha bisogno di filosofia.
A ventisei anni era il tipo del cerebrale quasi indifferente, spettatore della vita, cui da tempo era venuta meno la fede in Dio e che non aveva trovato un senso al concetto di patria. Era freddo, senza emozioni I suoi piaceri erano di tipo diverso: amava schierarsi contro le idee dei suoi vicini di tavolo, amava sondare l’animo degli altri.
Aveva corso tutta Parigi, dai salotti più aristocratici ai cabaret più sordidi, per il gusto di scavare le anime, di metterne a nudo i sentimenti, di studiarle…
Così – immaginava – il giorno che avesse avuto un «affare di cuore» sarebbe stato pronto ad affrontarlo, studiarlo, disseccarlo. Portava il monocolo perché gli avevano detto che il monocolo non era più di moda. A Parigi aveva imparato a vestire con accurata eleganza e a soddisfare tutti i propri capricci.
Da sibarita qual era, aveva una sorta di adorazione per i propri istinti. Conosceva quindi ogni genere di vizi. Solo nel suo sguardo stanco, profondamente triste, pareva affiorare il suo dramma di uomo che aveva dato fondo a tutte le voluttà senza mai soddisfarsi.
Aveva sulle labbra sottili un perenne sorrisetto malizioso, di beffa, estremamente irritante.
Non credeva più alla felicità. Ma in fondo avvertiva di essere insoddisfatto, capiva che nella sua vita qualcosa mancava. Cosa? Non la sapeva. Questo la assillava ed egli orientava tutta la sua vita verso la ricerca di uno scopo. «Sì» mormorava fra sé, mentre ritto sul ponte fissava le onde, «perché la vita di ciascuno deve necessariamente avere uno scopo… Ma quale?»
Il mare, indifferente, non dava risposta. Il sole, morendo all’orizzonte, vi costruiva paesaggi fantasmagorici. Il sole, il primo pittore cubista del mondo.
A pranzo la francesina gli sorrise. C’era in quel sorriso una allettante promessa di voluttà estreme. Paulo Rigger si mise a immaginarla nuda. Doveva essere bella… Una donna così, talmente giovane e già così esperta, doveva essere una raffinata. Si ripromise di fare la sua conoscenza.
Sul ponte, lei sorrideva ingenua dell’ingenuo gioco delle onde.
Rigger si avvicinò.
«Mademoiselle… »
«Niente Mademoiselle, Julie.»
«Ah, Julie, sei adorabile.»
«Tutto qui quello che trovi da dirmi? Me l’hanno già detto quei ragazzini che mi facevano la carte poco fa. Avrei pensato che tu trovassi da dire qualcosa di nuovo.»
«L’ho trovato infatti. Ti voglio dire che i tuoi occhi promettono cose folli: ma io le cose folli le conosco tutte, e dubito che tu abbia qualcosa di nuovo da offrire.»
«Stanotte all’una. La porta della mia cabina sarà aperta. Ti aspetto.»
In cabina, Rigger rifletteva se gli convenisse andare all’appuntamento con Julie oppure no. Si sentiva invadere da una grande stanchezza. Pensò a Julie. Ed ebbe paura dei suoi occhi. No, non sarebbe andato. Quella donna era capace di appiccicarglisi addosso come una mignatta, in Brasile. E poi, non era che una cortigiana ben nota. Una che faceva l’amore a tariffa, senz’amore. Che gli avrebbe potuto dare di nuovo? Il piacere gli era ben noto. La carne… Ma forse l’amore non consisteva solo in quello… C’era forse qualcosa d’altro… Quel qualcosa, lui non lo conosceva. Arrivava ad affermare che non esisteva. Ma, esistesse o no, non era certo la francese che avrebbe pluto darglielo. Quella non gli avrebbe dato che sesso. E allo stesso modo di sempre anche. Al diavolo! Non ci sarebbe andato.
E Julie attese la notte intera, nuda, sognando di voluttà ineffabili. Poi pianse di rabbia. mordendo il cuscino. Da ultimo lo insultò. Quell’animale. Non sapeva che gli aveva riservato carezze che mai aveva venduto a nessun uomo… Imbecille!
In quel mentre. Paulo Rigger sognava che aveva una fidanzatina romantica, che leggeva Henri Ardel e suonava al piano valzer molto sentimentali.
Il giorno seguente, il grido noto della scoperta:
«Terra, terra!»
Laggiù, in lontananza. il Paese del Carnevale.
_______________
Fonte: AMADO, Jorge. Jorge Amado: romanzi. In: Il Paese del Carnevale [La revisione delle traduzione è a cura di Paolo Collo e Daniela Ferioli]. Volume primo. Milano: A. Mondadon, 2002. p. 5-11.