SEGREDOS PÚBLICOS OS BLOGS DE MULHERES NO BRASIL

Já se foi o tempo em que as moças desabafavam suas angústias num ‘querido diário’ escrito com caligrafia caprichada e que não deveria ser lido por mais ninguém. O amigo íntimo imaginário, feito de papel e tinta, deu lugar aos blogs, que podem ser lidos e comentados pelo mundo inteiro, sem que sua autoria seja revelada. Trata-se de um fenômeno recente, mas que já começa a alterar a construção da identidade feminina, pois estabelece uma nova forma de inserção social e joga por terra teorias consagradas de alguns dos maiores pensadores da comunicação. Em ‘Segredos públicos’, a pesquisadora, professora e escritora Luiza Lobo avalia essa revolução com profundidade, embasamento e clareza incomuns. Antes, as autoras dos diários se comunicavam consigo próprias. Escrever era isolar-se em seu mundo particular. Luiza Lobo mostra que desapareceu a divisão claramente definida entre o público e o privado, como era feita por Habermas. Também se rompeu o esquema de processo comunicativo linear e pessoal proposto por Jakobson. As vozes agora se cruzam simultâneas e em todas as direções. Os blogs se impõem como uma produção pessoal e coletiva, sem que haja contradição nisso. Como conseqüência, as mulheres têm hoje nos blogs um nível de liberdade muito maior que o experimentado por Anaïs Nin, Colette ou Marguerite Duras. Com a possibilidade de se expor em anonimato, elas incorporam a gíria, o idioleto e o baixo calão, expressando-se de modo mais catártico e profundo. A autora não defende nem condena os blogs, apenas os estuda e procura explicá-los.
Terras Proibidas
O século XIX no Brasil foi o século do café. Foi ele que deu origem a poderosos clãs estabelecidos no interior fluminense, na região conhecida como Vale do Paraíba do Sul. Mas, em meio ao poderio cafeeiro, fortemente dependente da mão de obra escrava, sopravam os ventos da modernidade, da onda abolicionista, da morte do Império e do nascimento da República. Terras proibidas – A saga do café no Vale do Paraíba do Sul, da escritora e professora da área de Letras da UFRJ Luiza Lobo, é justamente um mergulho na trajetória de ascensão, apogeu e decadência das grandes fazendas do ciclo do café. O romance conta a saga da família de Francisco José Teixeira Leite, o barão de Vassouras. Empreendedor nato, construiu um império cafeeiro e um clã poderoso e influente, auxiliando no crescimento das cidades do Vale do Paraíba, particularmente Vassouras, e adquirindo grande importância política. No entanto, sua família estava fadada a sofrer com tragédias e mortes. Ele testemunha todas elas. Ancorada em extensa pesquisa histórica, Luiza Lobo usa a família do Vale do Paraíba do Sul – também conhecido como Terras Proibidas, região a qual ninguém podia ter acesso para que fosse impedido o contrabando de ouro encontrado em Minas Gerais – para ilustrar as intensas mudanças pelas quais o Brasil passou na segunda metade do século XIX.