LAÇOS DE FAMÍLIA


Autor: Clarice Lispector
Título: Laços de Família, Family Ties, Liens de Famille
Idiomas: port, eng, fra
Tradutor: Giovanni Pontiero(eng), Jacques et Teresa Thiériot(fra)
Data: 28/12/2004

LAÇOS DE FAMÍLIA

MISTÉRIO EM SÃO CRISTÓVÃO

Clarice Lispector

Numa noite de maio – os jacintos rígidos perto da vidraça – a sala de jantar de uma casa estava iluminada e tranqüila.
Ao redor da mesa, por um instante imobilizados, achavam-se o pai, a mãe, a avó, três crianças e uma mocinha magra de dezenove anos. O sereno perfumado de São Cristóvão não era perigoso mas o modo como as pessoas se agrupavam no interior da casa tornava arriscado o que não fosse o seio de uma família numa noite fresca de maio. Nada havia de especial na reunião: acabara-se de jantar e conversava-se ao redor da mesa, os mosquitos em torno da luz. O que tornava particularmente abastada a cena, e tão desabrochado o rosto de cada pessoa, é que depois de muitos anos quase se apalpava afinal o progresso nessa família: pois numa noite de maio, após o jantar, eis que as crianças têm ido diariamente à escola, o pai mantém os negócios, a mãe trabalhou durante anos nos partos e na casa, a mocinha estava se equilibrando na delicadeza de sua idade, e a avó atingiu um estado. Sem se dar conta, a família fitava a sala feliz, vigiando o raro instante de maio e sua abundância. Depois foi cada um para o seu quarto. A velha estendeu-se gemendo com benevolência. O pai e a mãe, fechadas todas as portas, deitaram-se pensativos e adormeceram. As três crianças, escolhendo as posições mais difíceis, adormeceram em três camas como em três trapézios. A mocinha, na sua camisola de algodão, abriu a janela do quarto e respirou todo o jardim com insatisfação e felicidade. Perturbada pela umidade cheirosa, deitou-se prometendo-se para o dia seguinte uma atitude inteiramente nova que abalasse os jacintos e fizesse as frutas estremecerem nos ramos – no meio de sua meditação adormeceu.
Passaram-se horas. E quando o silêncio piscava nos vaga-lumes – as crianças penduradas no sono, a avó ruminando um sonho difícil, os pais cansados, a mocinha adormecida no meio de sua meditação – abriu-se a casa de uma esquina e dela saíram três mascarados.
Um era alto e tinha a cabeça de uma galo. Outro era gordo e vestira-se de touro. E o terceiro, mais novo, por falta de idéias, disfarçara-se em cavalheiro antigo e pusera máscara de demônio, através da qual surgiam seus olhos cândidos. Os três mascarados atravessaram a rua em silêncio.
Quando passaram pela casa escura da família aquele que era um galo e tinha quase todas as idéias do grupo, parou e disse:
— Olha só.
Os companheiros, tornados pacientes pela tortura da máscara, olharam e viram uma casa e um jardim. Sentindo-se elegantes e miseráveis, esperaram resignados que o outro completasse o pensamento. Afinal o galo acrescentou:
— Podemos colher jacintos.
Os outros dois não responderam. aproveitaram a parada para se examinar, desolados e procurar um meio de respirar melhor dentro da máscara.
— Um jacinto para cada um pregar na fantasia, concluiu o galo.
O touro agitou-se inquieto à idéia de mais um enfeite a ter que proteger na festa. Mas, passado um instante em que os três pareciam pensar profundamente para resolver, sem que na verdade pensassem em coisa alguma – o galo adiantou-se, subiu ágil pela grade e pisou na terra proibida do jardim. O touro seguiu-o com dificuldade. O terceiro, apesar de hesitante, num só pulo achou-se no próprio centro dos jacintos, com um baque amortecido que fez os três aguardarem assustados: sem respirar, o galo, o touro e o cavalheiro do diabo perscrutaram o escuro. Mas a casa continuava entre trevas e sapos. E, no jardim sufocado de perfume, os jacintos estremeciam imunes.
Então, o galo avançou. Poderia colher o jacinto que estava à sua mão. Os maiores, porém, que se erguiam perto de uma janela – altos, duros, frágeis – cintilavam chamando-o. Para lá o galo se dirigiu na ponta dos pés, e o touro e o cavalheiro acompanharam-no. O silêncio os vigiava.
Mal porém quebrara a haste do jacinto maior, o galo interrompeu-se gelado. Os dois outros pararam num suspiro que os mergulhou em sono.
Atrás do vidro escuro da janela estava um rosto branco olhando-os.
O galo imobilizara-se no gesto de quebrar o jacinto. O touro, quedara-se de mãos ainda erguidas. O cavalheiro, exangue sob a máscara, rejuvenescera até encontrar a infância e o seu horror. O rosto atrás da janela olhava.
Nenhum dos quatro saberia quem era o castigo do outro. Os jacintos cada vez mais brancos na escuridão. Paralisados, eles se espiavam.
A simples aproximação de quatro máscaras na noite de maio parecia ter percutido ocos recintos, e mais outros, e mais outros que, sem o instante no jardim, ficariam para sempre nesse perfume que há no ar e na imanência de quatro naturezas que o acaso indicara, assinalando hora e lugar – o mesmo acaso preciso de uma estrela cadente. Os quatro, vindos da realidade, haviam caído nas possibilidades que tem uma noite de maio em São Cristóvão. Cada planta úmida, cada seixo, os sapos roucos aproveitaram a silenciosa confusão para se disporem em melhor lugar – tudo no escuro era muda aproximação. Caídos na cilada, eles se olhavam aterrorizados: fora saltada a natureza das coisas e as quatro figuras se espiavam de asas abertas. Um galo, um touro, o demônio e um rosto de moça haviam desatado a maravilha do jardim… Foi quando a grande lua de maio apareceu.
Era um toque perigoso para as quatro imagens. Tão arriscado que, sem um som, quatro mudas visões recuaram sem se desfitarem, temendo que no momento em que não se prendessem pelo olhar novos territórios distantes fossem feridos, e que, depois da silenciosa derrocada, restassem os jacintos – donos do tesouro do jardim. Nenhum espectro viu o outro desaparecer porque todos se retiraram ao mesmo tempo, vagarosos, na ponta dos pés. Mal, porém, se quebrara o círculo mágico de quatro, livres da vigilância mútua, a constelação se desfez com terror: três vultos pularam como gatos as grades do jardim, e um outro, arrepiado e engrandecido, afastou-se de costas até o limiar de uma porta, de onde, num grito, se pôs a correr.
Os três cavalheiros mascarados, que por idéia funesta do galo, pretendiam fazer uma surpresa num baile tão longe do carnaval, foram um triunfo no meio da festa já começada. a música interrompeu-se e os dançarinos, ainda enlaçados, entre risos, viram três mascarados ofegantes parar como indigentes à porta. Afinal, depois de várias tentativas, os convidados tiveram que abandonar o desejo de torná-los os reis da festa porque, assustados, os três não se separavam: um alto, um gordo e um jovem, um gordo, um jovem e um alto, desequilíbrio e união, os rostos sem palavras embaixo de três máscaras que vacilavam independentes.
Enquanto isso, a casa dosa jacintos iluminara-se toda. A mocinha estava na sala. A avó, com os cabelos brancos entrançados, segurava o copo d’água, a mãe alisava os cabelos escuros da filha, enquanto o pai percorria a casa. A mocinha nada sabia explicar: parecia ter dito tudo no grito. Seu corpo apequenara-se claro – toda a construção laboriosa de sua idade se desfizera, ela era de novo uma menina. Mas na imagem rejuvenescida de mais de uma época, para o horror da família, um fio branco aparecera entre os cabelos da fronte. Como persistisse em olhar em direção da janela, deixaram-na sentada a repousar, e, com castiçais na mão, estremecendo de frio nas camisolas, saíram em expedição pelo jardim.
Em breve as velas se espalhavam dançando na escuridão. Heras aclaradas se escolhiam, os sapos saltavam iluminados entre os pés, frutos se douravam por um instante entre as folhas. O jardim, despertado no sonho, ora se engrandecia, ora se extinguia; borboletas voavam sonâmbulas. Finalmente a velha, boa conhecedora dos canteiros, apontou o único sinal visível no jardim que se esquivava: o jacinto ainda vivo quebrado no talo… Então era verdade: alguma coisa sucedera. Voltaram, iluminaram a casa toda e passaram o resto da noite a esperar.
A mocinha aos poucos recuperou sua verdadeira idade. Somente ela não vivia a perscrutar. Mas os outros, que nada tinham visto, tornaram-se atentos e inquietos. E como o progresso naquela família era frágil produto de muitos cuidados e de algumas mentiras, tudo se desfez e teve que se refazer quase do princípio: a avó, de novo pronta, a se ofender, o pai e a mãe fatigados, as crianças insuportáveis, toda a casa parecendo esperar que mais uma vez a brisa da abastança soprasse depois de um jantar. O que sucederia talvez noutra noite de maio.

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Fonte: LISPECTOR, Clarice. “Mistério em São Cristóvão”. In: Laços de Família: contos. 11ª ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1979, p. 131-137.

MISTERY IN SÃO CRISTÓVÃO

From Family Ties

Clarice Lispector

On a autumn evening, with tall, erect hijacinths beside the windowpane, the dining room of a house was lit up and peaceful.

Around the table, motionless for a moment, the father, mother, grandmother, three children, and a slender nineteen-year-old girl. The cool perfumed night air of São Cristóvão members of the household were grouped inside the house precluded everything except an intimate family circle on such a cool May evening.

There was nothing special about the gathering: they had just had dinner and they sat talking round the table, while mosquitoes circled the light. What made the scene so particularly complete and the expression of everyone there so relaxed, was the fact that after many years one could almost feel, at long last, the progress of this family. Now, on this autumn evening, after dinner, here are the children who diligently attend school each day, the father who devotes himself to his business, the mother who for many years has been bearing children and doing the house work, the young girl who has been adapting herself to a delicate phase pf maturity, and the grandmother who has reached her old age. Without realizing it, the family gazed upon that room with deep satisfaction, watching the rare moment of May and its abundance.

Then each retired to his room. The old woman stretched herself out, sighing with benevolence. The father and mother, after locking up the house, lay down pensively and fell asleep. The three children, choosing the most awkward positions, slept in three beds, as on three trapezes. The young girl in her cotton nightdress opened her window and inhaled the whole garden, restless yet happy. Disturbed by the fragrant humidity, she lay down, promising herself a completely new outlook tomorrow which would shake the hyacinths and make the fruits tremble on the branches – and in the midst of her meditation she fell asleep.

The hours passed. And when the silence twinkled in the glow of fireflies – the children suspended in their sleep, the grandmother, pondering over a difficult dream, the parents fatigued, the young girl asleep in the midst of her meditation – the doors of a house on the corner opened and three masqueraders stepped out.

The first was tall and wore the head mask of a rooster. The second was fat and was dressed up as a bull. And the third, who was younger, for want of a better idea, had disguised himself as an ancient knight and wore a demon’s mask, trough which appeared two innocent eyes. The three masqueraders crossed the road in silence.
When they passed the house of our family, which was now in darkness, the man masquerading as a rooster (who invented nearly all the ideas for that trio) suddenly stopped and nudged his companions.

‘Just take a look.’

His companions, reduced to patience by the utter discomfort of their masks, obeyed him and saw a house with a garden. Feeling elegant, but miserable, they waited patiently for their leader to continue with what he had to say. Finally the rooster said, ‘We can gather hyacinths.’

The other two made no reply. They took advantage of their halt in order to examine, in discomfort, their appearance and to find some way of breathing more freely inside those masks.

‘A hyacinth for each of us to pin on to his costume’, the rooster conclused.

The bull fidgeted nervously at the idea of yet another decoration to keep an eye on during the festivities. But, after a moment in which the three of them seemed to be deeply absorved in reaching a decision, without, in fact, deciding anything, the rooster strode ahead, gingerly climbed over the railings, and stepped on to the forbidden territory of the garden. The bull followed him with some difficulty. But the knight, although hesitant, with one mighty leap landed right among the hyacinths with a dull thud that riveted all three of them to the spot in terror. Too frightened to breathe, the rooster, the bull, and the demon knight scrutinized the darkness. But the house remained among shadows and toads. And in the garden, suffused with perfume, the hyacinths trembled unconcerned.

Then the rooster advanced. He could pick the hyacinth that was within his reach. The larger flowers, however, which grew beside a window – tall, brittle, fragile – stood glittering and beckoned to him. On tiptoe, the rooster made his way toward them, the bull and the knight following behind. The silence kept watch over them.

But just as he was on the point of breaking the stalk of the largest hyacinth, the rooster froze in his tracks. The other two halted with a sigh that plunged them into sleep.

Behind the dark glass of the window a white face was watching them.

The rooster had frozen in the gesture of plucking the hyacinth. The bull remained with his hands still uplifted. The knight, ashen under his mask, became a little boy again confronting the fears of his childhood. The face behind the window steadily watched them.

None of the four would ever know which was the punishment of the other. The hyacinths gradually seemed to become whiter in the darkness.

Paralysed, the masqueraders stood peering at each other. The simple encounter of four masks on that autumn evening seemed to have touched deep recesses, then others, and still others which, had it not been for the moment in the garden, would have remained forever with this perfume which is in the air and in the immanence of those four natures which fate had designated, assignig the hour and place – the same precise fate of a falling star. These four, having come from reality, ahd become subject to the possibilities an autumn evening possesses in São Cristóvão. Each humid plant, each pebble, the hoarse toads – all of them exploiting the silent chaos in order to arrange themselves in a better spot – everything in that darkness silently approached. Having fallen into the ambush, they looked at each other in fear: the nature of things had been surprassed and the four figures spied each other with open wings. The rooster, the bull, the demon, and the girl’s face had unravelled the marvels of the garden. That was when the great May moon appeared.

It was a dangerous moment for the four images. So fraught with danger that, without a murmur, the four mute apparitions retreated without taking their eyes off each other, fearing that the moment they no longer held each other in their gaze, new remote territories would be ravaged, and that after their silent defeat the hyacinths would remain in possession of the garden’s treasure. No spectre saw the other disappear because they all withdrew at the same time, slowly, on tiptoe. No sooner, however, had the magic circle of the four been broken, liberated from their mutual vigilance, than the stars dissolved in terror. Three figures sprang like cats over the garden railings, and another, petrified and enlarged, drew away backward as far as the threshold of a doorway, where, screaming, it started to run.

The three masked gentlemen who, at the rooster’s fatal suggestion, animed to cause some surprise at a ball in a season so remote from Carnival, caused a sensation in the midst of the festivities that were already under way. The band stopped playing and the dancers, still holding their partners, saw, among peals of laughter, three breathless masqueraders fumble like beggars in the entrance. Finally, after sveral attempts, the guests ahd to abandon the idea of making them the main attraction of the evening, because in their terror the masqueraders refused to let go of one another: the tall one, the fat one, the young one, the fat one, the young one, the tall one, contrast and unity, their sppechless faces beneath three masks which faltered independently.

Meanwhile, the house of the hyacinths was now all lit up. The young girl was sitting in the hall. The grandmother, with her withe hair in braids, held a glass of water, her hand smoothing the girl’s dark hair while the father chased through the house. The young girl was unable to explain: she appeared to have said everything with her scream. Her face grew small and bright – the whole laborious structure of her years had dissolved and she was a child once more. But in her rejuvenated image, to the horror of the family, a white strand had appeared among the hairs on her forehead. Since she persisted in staring in the direction of the window, they left her to rest and, armed with candlesticks and shivering with cold in their nightgowns, they went out to explore the garden.

Soon the candles scattered, dancing in the darkness. The ivy plants exposed to light immediately curled up, the toads illuminated, jumped among their feet, fruits were golden for a second among the leaves. The garden, aroused from a dream, now seemed to expand, now to fade away; butterflies hovered like sleepwalkers. Finally, the old lady, long familiar with the flowerbeds, pointed to the only visible sign in the garden that shunned discovery: the hyacinth – still alive but with its stalk broken… Then it was true: something had happened. They returned indoors, put on all the lights in the house, and spent the rest of the night – waiting.

Only the three children continued to sleep ever more soundly; the young girl gradually recovered her true years. She alone did not continue to look for something. But the others, who had seen nothing, became watchful and unsettled. And since the progress in that family was the fragile product of many solicitudes and some deceptions, everything dissolved and had to be restored almost from the beginning: the grandmother once again quick to take offence, the father and mother fatigued, the children intolerable, the whole house appearing to lie in wait for that breeze of plenitude to blow once more after dinner. Perhaps it would happen some other autumn evening.

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Fonte: Lispector, Clarice. “Mistery in São Cristóvão”. In: Family Ties. Translated with an afterword by Giovanni Pontiero. Manchester [Inglaterra]: Carcanet, 1985. 140p. p. 108-13.

LIENS DE FAMILLE

MYSTÈRE A SÃO CRISTOVÃO

Clarice Lispector

Une nuit de mai – les jacinthes rigides derrière les carreaux – la sale à manger d’une maison était éclairée et tranquille.
Autour de la table, pour un instant figés, se trouvaient le père, la mère, la grand-mère, trois enfants et une jeune fille maigre de dix-neuf ans. Le serein parfumé de São Cristovão n’était pas dangereux mais leur façon de se grouper à l’intérieur de la maison faisait courir un risque à ce qui n’aurait pas été le sein d’une famille par une nuit fraîche de mai. Il n’y avait rien de particulier dans cette réunion: on avait fini de dîner et on bavardait autour de la table, les moustiques autour de la lumière. Ce qui rendait cette scène singulièrement abondante et si épanoui le visage de chacun, c’est qu’après bien des années, finalement on palpait pour ainsi dire le progrès de cette famille: car par une nuit de mai, après le dîner, voyez: les enfants sont allés tous les jours à l’école, le père fait marcher ses affaires, la mère a travaillé durant des années à ses accouchements et à sa maison, l’adolescente trouve son équilibre dans la grâce de son âge et la grand-mère a atteint un palier. Sans s’en rendre compte, la famille contemplait la pièce heureuse, attentive à ce rare instant de mai et à son abondance.
Ensuite chacun gagna sa chambre. La vieille s’étendit en gémissant de bon gré. Le père et la mère, une fois fermées toutes les portes, se couchèrent pensifs et s’endormirent. Les trois enfants, après avoir choisi les positions les plus acrobatiques, s’endormirent chacun dans son lit comme sur un trapeze. L’adolescente, dans sa chemise de nuit en coton, ouvrit la fenêtre de sa chambre et respira tout le jardin, insatisfaite et heureuse. Troublée par l’humidité odorante, elle se coucha en se promettant pour le lendemain une attitude entièrement nouvelle qui fléchirait les jacinthes et ferait frémir les fruits sur les branches – au milieu de sa méditation, elle s’endormit.
Des heures passèrent. Et alors que le silence clignotait dans les lucioles – les enfants suspendus au sommeil, la grand-mère ruminant un rêve difficile, les parents fatigués, l’adolescente endormie au milieu de sa méditation –, la maison du coin de la rue s’ouvrit et il en sortit trois personnages déguisés.
L’un était grand et avait une tête de coq. Le deuxième était gros et s’était travesti en taureau. Et le troisième, plus jeune, par manque d’imagination, s’était déguisé en chevalier d’autrefois et avait mis un masque de diable à travers lequel apparaissaient ses yeux candides. Les trois personnages parcoururent la rue en silence.
Quand ils arrivèrent devant la maison obscure de la famille, celui qui était un coq et qui prenait presque toutes les initiatives de la bande s’arrêta et dit:
— Regardez!
Ses compagnons, rendus patients par la torture du masque, regardèrent et virent une maison et un jardin. Se sentant élégants et misérables, ils attendirent résignés que l’autre compléte sa pensée. Finalement le coq ajouta:
— Et si on cueillait des jacinthes?
Les deux autres ne répondirent pas. Ils profitaient de la halte pour s’examiner, déconfits, et chercher un moyen de mieux respirer sous leur masque.
— Une jacinthe chacun, que nous épinglerons à notre costume, conclut le coq.
Le taureau s’agita, inquiet à l’idée d’avoir un affiquet de plus à protéger dans la fête. Mais, passé l’instant où ils donnèrent l’impression de réfléchir profondément avant de se décider – même si en réalité ils ne pensaient à rien –, le coq s’avança, franchit avec agilité la grille et foula la terre interdite du jardin. Le taureau le suivit, non sans mal. Le troisième, encore qu’hésitant, d’un seul bond se retrouva au beau milieu des jacinthes, et le bruit amorti de sa chute les cloua de peur, sur le qui-vive: retenant leur souffle, le coq, le taureau et le chevalier du diable scrutèrent l’obscurité. Mais la maison continuait, veillée par les ténèbres et les crapauds. Et dans le jardin suffoqué de parfum, les jacinthes frémissaient, intouchables.
Alors le coq avança. Il aurait pu cueillir la jacinthe qui était à sa portée. Les plus grandes, toutefois, qui se dressaient devant une fenêtre – hautes, dures, fragiles –, l’appelaient de leur scintillement. Le coq s’en approcha sur la pointe des pieds, le taureau et le chevalier sur ses talons. Le silence les guettait.
A peine le coq eut-il cassé la hampe de la plus grande jacinthe qu’il dut s’interrompre, glacé. Les deux autres s’arrêtèrent avec un soupir qui les ensommeilla.
Derrière la vitre opaque de la fenêtre apparaissait un visage blanc qui les regardait.
Le coq s’était pétrifié dans le geste de casser la jacinthe. Le taureau avait gardé les mains en l’air. Le chevalier, exsangue sous son masque, avait rajeuni jusqu’à retrouver l’enfance et son hourreur. Le visage derrière la fenêtre regardait.
Aucun des quatre n’aurait su dire qui était le châtiment de l’autre. Les jacinthes de plus en plus blanches dans l’obscurité. Paralysés, ils s’epiaient.
Le simple rapprochement de quatre masque das la nuit de mai semblait avoir percuté des enceintes creuses, et d’autres, d’autres encore qui, sans cet instants dans le jardin, seraient restées à jamais dans le parfum qu’il y avait dans l’air et l’immanense de quatre natures que le hasard avait désignées, indiquant l’heure et le lieu – le même hasard précis d’une étoile filante. Tous quatre, venus de la réalité, étaient tombés dans les possibilités que recèle une nuit de mai à São Cristovão. Chaque plante humide, chaque caillou, les crapauds enroués profitaient de la silencieuse confusion pour se disposer à une meilleure place – tout dans le noir était un rapprochement muet. Tombés dans le piège, ils se regardaient terrorisés: la nature des choses avait été dépassée et les quatre figures se dévisageaient, ailes ouvertes. Un coq, un taureau, le diable et un visage de jeune fille avaient dénoué la merveille du jardin… C’est alors que la grande lune de mai apparut.
Être touché par sa clarté était dangereux pour les quatre images, si risqué que, sans le moindre son, quatre oisions muettes reculèrent sans se quitter des yeux, de crainte que, au moment où elles ne se lieraient plus par le regard, de nouveaux territoires lointains ne fussent blessés, laissant ainsi, après la silencieuse déroute, les jacinthes maîtresses du trésor du jardin. Aucun spectre n’en vit un autre disparaître car tous se retirèrent au même moment, lentement, sur la pointe des pieds. Cependant, à peine brisé le cercle magique des quatre, libérés de leur surveillance mutuelle, la constellation se défit sous le coup de la terreur: trois silhouettes sautèrent comme des chats les grilles du jardin et une autre, horripilée et grandie, s’écarta et gagna à reculons le seuil d’une porte d’où, poussant un cri, elle se mit à courir.
Les trois chevaliers masqués qui, selon une idée funeste du coq, prétendaient causer la surprise dans ce bal si éloigné du carnaval, furent accueillis triomphalement dans la fête déjà commencée. La musique s’arrêta et les danseurs, encore enlacés, parmi des rires, virent trois personnages masqués, pantelants, se planter comme des mendiants à la porte. Alors les invités voulurent en faire les rois de la fête, mais après plusieurs vaines tentatives finirent par y renoncer parce que le trio, encore sous le coup de la frayeur, ne se défaisait pas: un grand, un gros et un jeune, un gros, un jeune et un grand, déséquilibre et union, les visages sans mots derrière trois masques qui oscillaient indépendamment.
Pendant ce temps, toute la maison des jacinthes s’était éclairée. L’adolescent était assise dans le salon. La grand-mère, avec ses cheveux blancs nattés, tenait un verre d’eau, la mère lissait les cheveux noirs de sa fille, tandis que le père parcourait la maison. L’adolescente était incapable d’expliquer: apparemment elle avait tout dit dans son cri. Son visage s’était rapetissé, éclairci. Toute la construction laborieuse de son âgé écroulée, elle était de nouveau une petite fille. Mais dans l’image rajeunie de bien d’autres époques, aux yeux horrifiés de la famille, un fil blanc était apparu dans sa frange. Comme elle n’arrêtait pas de regarder du côté de la fenêtre, ils la laissèrent se reposer, assise, et, des chandeliers à la main, grelottant de froid dans leurs chemises de nuit, ils sortirent en expédition dans le jardin.
Très vite les bougies s’éparpillèrent en dansant dans le noir. Des lierres éclairés se recroquevillaient, les crapauds révélés par la lumière sautaient entre les pieds, des fruits se doraient un instant parmi les feuilles. Le jardin, réveillé en plein rêve, tantôtgrandissait, tantôt s’éteignait. Des papillons voltigeaient, somnambules. Finalement l’aïeule, qui connaissait bien les parterres, montra la seule trace visible dans le jardin qui se dérobait: la jacinthe encore vivante cassée sur la tige… C’était donc vrai: quelque chose s’était passé. Ils rentrèrent, illuminèrent toute la maison et vécurent le reste de la nuit à attendre.
Seuls les trois enfants dormaient encore plus profondément.
L’adolescente peu à peu retrouva son âge véritable. Elle fut la seule à ne plus passer sa vie à scruter. Mais les autres, qui n’avaient rien vu, devinrent attentifs et inquiets. Et comme le progrès dans cette famille était le fragile produit de multi ples précautions et de quelques mensonges, tout se défit et dut se refaire presque du début: la grand-mère encore une fois prête à se vexer, le père et la mère fatigués, les gosses insupportables, toute la maison avait l’air d’attendre qu’une fois de plus la brise de l’abondance souffle après un dîner. Ce qui arriverait peut-être une autre nuit de mai.

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Fonte: LISPECTOR, Clarice. “Mystère a São Cristovão”. In: Liens de Famille. Traduits du brésilien par Jacques et Teresa Thiériot. Paris, Des Femmes, 1989, p. 175-183.