A MULHER EX-CÊNTRICA E SUA SUBALTERNIDADE: UMA LEITURA DE NIKETCHE – Vivian Leme Furlan


 

Vivian Leme Furlan

Universidade Federal de São Carlos

 

Jorge Vicente Valentim

Universidade Federal de São Carlos

 
 
RESUMO: Este artigo pretende fazer uma breve leitura do romance Niketche: uma história de poligamia, de Paulina Chiziane, a partir de reflexões sobre o ex-cêntrico e subalterno, pela necessidade de se refletir, em meio as grandes contemplações poéticas da obra, sobre o ser (e estar) da mulher como sujeito na sociedade, especialmente quando a tradição foi potencializada pelas estruturas pós-coloniais. As considerações que tentaremos alcançar, embora se façam presentes no contexto problemático tratado no romance, superam os limites da poligamia na cultura africana, mas apresentam-se em diversos contextos e estratos sociais em que a mulher sofre subalternidade.
 
Palavras-chave: Mulher; Subalternidade; Tradição; Pós-colonial.
 
 
ABSTRACT: This article intends to read Paulina Chiziane’s novel Niketche: A Tale on Polygamy from an ex-centric and subordinate perspective, having in mind the importance of reflecting, among the novel’s great poetic contemplation, what it means to be a woman, as an individual, in society, especially in one  where tradition was enhanced by post-colonial structures. Our considerations will try to go beyong the problematic context treated in the novel, to overcome the limits of polygamy in African culture, and to present conclusions in relation to different contexts and social strata in which women suffer subordination.
 
Keywords: Woman; Subordination; Tradition; Post-colonial society.
 
Minicurrículo: Miriam Leme Furlan é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da UFSCar (PPGlit), fomentada pela CAPES/ ProPG-UFSCar.
 
Minicurrículo: Jorge Vicente Valentim é professor do Departamento de Letras da UFSCar, Coordenador do PPGLit (Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura) / UFSCar, Coordenador do GELPA (Grupo de Estudos Literários Portugueses e Africanos) / UFSCar e Bolsista Pós-Doutorado Sênior (CAPES/Universidade do Porto/2013).
 
 
 
A MULHER EX-CÊNTRICA E SUA SUBALTERNIDADE:
UMA LEITURA DE NIKETCHE
 
 
Vivian Leme Furlan
Universidade Federal de São Carlos
 
Jorge Vicente Valentim
Universidade Federal de São Carlos
 
 
 
INTRODUÇÃO:
A sociedade e também a cultura, de uma maneira geral, são presumidas em torno de um centro homogêneo e hegemônico (masculino, heterossexual, branco, ocidental), caracterizando tudo que está à parte disto como marginal. Neste sentido, a mulher pode ser considerada ex-cêntrica, subalterna (e o termo subalterno é aqui referido também pela perspectiva de pessoas e grupos que estão fora do poder desta estrutura hegemônica). Linda Hutcheon (1991, p. 96) define ainda como ex-cêntrico o “ficar na fronteira ou na margem, ficar dentro e apesar disto, fora”. Um (não) lugar que se assemelha muito ao que ocupam as mulheres de Niketche. No romance, temos a história de uma mulher moçambicana, Rami, e a descoberta da vida poligâmica de seu marido, Tony, depois de muitos anos de um casamento monogâmico e cristão. Rami, no começo da narrativa, demonstra uma proximidade muito grande com a ideia de família tradicional, no desejo de reconquistar o amor do marido. Entretanto, ao descobrir que Tony possui diversas amantes, Rami parte em busca dessas mulheres, e além da grande hipocrisia velada de seu marido, ela encontra não inimigas, mas mulheres como ela, de diferentes espaços, mas todas também vítimas de uma sociedade desigual, onde homens e mulheres não têm os mesmos direitos.
 

A TRADIÇÃO POTENCIALIZADA: PODE A MULHER FALAR?

Assim como a teórica e crítica Gayatri Chakravorty Spivak (2010), faz-se necessário também o questionamento sobre a fala da mulher enquanto sujeito subalterno. É evidente que Paulina Chiziane, enquanto romancista e mulher, dá voz e cria um espaço à mulher africana, porém como fazê-lo diante do sujeito que é socialmente emudecido e como criar esse lugar que é incômodo? Os questionamentos de Spivak (2010) em Pode o subalterno falar? remetem justamente à preocupação em teorizar como intelectuais e críticos podem exprimir o sujeito subalterno, já que ele mesmo não pode ao menos ocupar uma categoria monolítica, pois esse sujeito é irredutivelmente heterogêneo. Spivak (2010) irá afirmar que, por ser o discurso do subalterno um discurso obliterado, e a mulher negra e pobre encontra-se em uma posição ainda mais periférica devido aos problemas inerentes ao gênero e as condições que enfrenta:
Pode o subalterno falar? O que a elite deve fazer para estar atenta a construção contínua do subalterno? A questão da mulher parece ser a mais problemática nesse contexto. Evidentemente, se você é pobre, negra e mulher, está envolvida de três maneiras (SPIVAK, 2010, p. 85).
 
As mulheres de Niketche, coexistemcomo vítimas de violência física e moral, em um ambiente em que a tradição foi potencializada pelo (pós) colonialismo em África. Mulheres afetadas por uma tradição impregnada no cotidiano. A mulher negra, aqui, é duplamente oprimida, pois sofre o peso de sua condição de gênero e racial, e também as consequências da exploração que a colonização gerou em seu país. O horizonte de luta e enfrentamento da mulher africana está calcado em um país onde “não há estrada, nem emprego, nem perspectivas. As pessoas nunca viram um carro nem luz eléctrica. O mais importante é procriar. Quanto mais filhos, melhor, morrem uns tantos, mas sobram outros para apoiar na velhice” (CHIZIANE, 2004, p. 313).
Tendo em vista que o pós-colonial é muito mais uma questão epistemológica do que cronológica, o contexto de Niketche supera os limites do período pós independência, pois é um romance retratado quase trinta anos após a independência do país, não obstante a subalternidade, principalmente a feminina, é ainda muito viva. O explorador já não é mais o estrangeiro. A tradição está incrustada no cotidiano africano. As caravelas do passado foram embora, mas ainda clamam-se mudanças:
No passado os homens deixaram-se vencer pelos invasores que impuseram culturas, religiões e sistemas a seu bel-prazer. Agora querem obrigar as mulheres a rectificar a fraqueza dos homens. No regime cristão, as mulheres são educadas para respeitar um só rei, um deus, um amor, uma família, por que é que vão exigir que aceitemos o que nem eles conseguem negar? Negar não é gritar: é olhar a lei, mudar a lei, desafiar a religião e introduzir mudanças (CHIZIANE, 2004, p. 93).
 
Os atuais estudos culturais e literários intentam por introduzir transformações através do desvelamento dos meandros dos padrões e pensamentos hegemônicos. Linda Hutcheon (1991) dirá ainda sobre a necessidade em refletir sobre aquilo que chama de ex-cêntrico, pois o pós-modernismo questiona esses sistemas centralizados, “totalizados, hierarquizados e fechados” (HUTCHEON, 1991, p. 65), contudo, não os destrói. Ora, essas questões se fazem presentes no contexto Moçambicano retratado em Niketche, principalmente no período posterior a independências das colônias, que como vemos, não significou uma ruptura total com os padrões repressores, gerando um esgotamento da antiga utopia de liberdade colonial, e, atrelado a isso, uma extrema dificuldade em se definir a identidade de um povo de tempo e culturas fronteiriças. Inocência Mata (2003), em seus estudos sobre o pós-colonial, ao dizer sobre esse processo de descolonização afirmará que:
Ora, sendo a descolonização um processo (e não um estado) essa reconstituição identitária não tem que pressupor uma ruptura com os discursos hegemônicos, mas um agenciamento das estratégias discursivas que visem contribuir cumulativamente para esse novo código (MATA, 2003, p. 55).
 
A proposta de Inocência Mata (2003) pode ser tratada, principalmente em romances de escritores como Paulina Chiziane, como ela mesma propõe, pelo “agenciamento tanto da catarse dos lugares coloniais como as tensões pós-coloniais” (MATA, 2003, p.59), onde, ao invés de haver a invenção de um lugar totalmente novo, a proposta que surge é de deslocamento radical dento de um mesmo lugar. Essas estratégias, novos códigos, poderão ser notados em Niketche, quando mulheres, partindo de um contexto de subalternidade, reagem positivamente através da união de forças. Além disso, esse aspecto é notado pela evolução das personagens femininas e pela maneira que Chiziane conduz a narrativa, indicando um percurso e também uma evolução, partindo de mesmo lugar que é o matrimônio confuso da poligamia velada por Tony. As ações de Rami, em ir à procura das amantes do seu marido, incentivá-las a autonomia, e ainda oficializar o matrimônio de Tony com todas elas, demonstram um diálogo entre o que já estava estabelecido (o hegemônico) e o que podia ser transformado. Ou seja, a hegemonia pode até permanecer, mas readaptada, agenciada por Rami, através das estratégias do texto.
Além disso, a poligamia, mesmo que signifique uma subordinação, é tida como solução para algumas mulheres que vivem em condições de extrema pobreza e, falta de esperanças, sem perspectiva nenhuma. Esse estado parece nítido na fala de algumas mulheres de Niketche: “E disse-me: eu sou pobre. Sem país, nem emprego, nem dinheiro, nem marido. Se não tivesse roubado o teu marido, não teria nem filhos, nem existência.” (CHIZIANE, 2004, p.66-67). Portanto, por mais subalternas que sejam, as situações do romance demonstram uma constante busca da vitalização da presença feminina, mesmo andando lado a lado com a tradição, uma procura igualmente constante e universal pela reconfiguração da identidade nacional no cenário histórico e cultural de Moçambique.
O romance pode ser lido por múltiplos olhares, ora pelo exemplo de união da força feminina, ora pela representação multicultural de representação da identidade da nação, mas também por um olhar totalizante dos gêneros pelo poder feminino. Linda Hutcheon, apoiada em Derrida, apontam uma perspectiva descentralizadora onde masculino e feminino não devem se opor, mas formarem “um pseudo todo que o pós-modernismo contesta por meio de sua valorização do ex-cêntrico e do envolvimento que dá à diferença” (DERRIDA, 1984,89apud HUTCHEON,1991, p.95). As mulheres de Niketche podem representar esta retórica pluralizante, pois no desfecho, mesmo dentro de um contexto totalmente desfavorável, ex-cêntricas, todas elas mostram-se capazes de se sobreporem ao homem e lutarem pela independência financeira e amorosa. Rami despertará o sentimento de poder andar ao lado do homem e não a sua sombra. Entretanto, este olhar pode muitas vezes ser interpretado como utópico, embora seja o caminho textual escolhido por Chiziane, talvez objetivando cumprir a tarefa de valorização feminina e criação deste “pseudo todo” dos gêneros.  Em diversos momentos as personagens femininas demonstram isso, como em uma das falas de Rami:
 
Atravessaremos o mar com a nau dos nossos olhos porque saberemos navegar até ao além-mar e levaremos a mensagem de solidariedade e fraternidade às mulheres dos quatro cantos do mundo. Ensinaremos aos homens a beleza das coisas proibidas: o prazer do choro, o paladar das asas e patas de galinha, a beleza da paternidade, a magia do ritmo do pilão a moer o grão. Amanhã, o mundo será mais natural, e os nossos bebés, tanto meninas como rapazes, terão quatro a hora de nascer, as meninas serão também recebidas com cinco salvas de tambor, no tecto do lar paterno e na sombra da árvore dos seus antepassados. Marcharemos ao lado dos homens, como soldados fardados de suor e lama, na machamba, na mina, na fábrica, na construção, e levaremos um beijo de mel à boca de cada criança. Seremos mais ricas de pão e de paixão. Olharemos para os homens com amor verdadeiro e não para as cifras das notas de banco que pendem nos bolsos das calças. Ao lado dos nossos namorados, maridos e amantes, dançaremos de vitória em vitória no niketche da vida. Com as nossas impurezas menstruais, adubaremos o solo, onde germinará o arco-íris de perfume e flor” (CHIZIANE, 2004, p. 294).
 
As personagens femininas de Niketche, em muitos momentos deste processo de evolução apresentado pelo enredo, fazem um mesmo “percurso espiralar” (MATA, 2003, p. 50) que é proposto por Inocência Matano contexto da nação moçambicana e do movimento diacrônico dos sonhos da nação. A teórica suscita a ideia de que a nação, no percurso de descolonização, passa por momentos de utopia, distopia, atopia e heteropia, onde há primeiramente uma esperança e euforia frente ao projeto de liberdade colonial, seguindo de uma desilusão com o momento do pós-independência, caracterizado pelo desencantamento perante a não ruptura com as tradições coloniais, pelas muitas guerras civis pelo poder, e assim, emergindo para uma “amarga lucidez e angústia do desencontro com a história” (MATA, 2003,p.50). Para o sujeito subalterno, esse percurso suscitou em conflitos diversos, pois agora, além de conviver com as opressões a própria tradição impõe, o sujeito ex-cêntrico vive uma espécie de “descolonização colonizada”.
A independência esgotou o anterior filão e, em consequência, arrastou outras temáticas mais ajustadas às novas realidades. Os temas em voga são agora outros. O combate é muito diferente. A ameaça já não está no colonizador, na falta de afirmação de uma identidade nacional, mas na necessidade de criar uma nova utopia. Uma sociedade mais justa, baseada na igualdade de oportunidades e de direitos. A renúncia da corrupção tornou-se uma necessidade imperiosa e foi ganhando expressão crescente.  (FRADE, 2007, p. 16).
 
O combate não está mais no colonizador, mas a ressonância da colonização continua forte no pós-independência. A religião também é reflexo disso. Rami está presa não a Tony, mas ao cristianismo como um todo, que sufoca ainda mais a mulher e o sujeito subalterno na sociedade. O cristianismo vibra como insígnia do colonialismo ainda presente:
A igreja e os sistemas gritaram heresias contra essas práticas [alongamento das genitais], para destruir um saber que nem eles tinham (…). Até a escola de ballet eu fiz – imaginem! Aprendi todas aquelas coisas das damas europeias, como cozinhar bolinhos de anjos, bordar, boas maneiras, tudo coisas da sala. Do quarto, nada! (…). Por que é que a igreja proibiu estas práticas tão vitais para a harmonia de um lar? (…). O colonizador é cego. Destrói o seu, assimila o alheio, sem enxergar o próprio umbigo (CHIZIANE, 2004, p. 44-45).
 
A mulher é silenciada por uma forte herança cristã, salientando ainda mais sua subalternidade enquanto sujeito. Mas este silenciamento tem raízes mais profundas que o cristianismo, pois a opressão feminina é realidade em diferentes contextos de subalternidade.
 

CONCLUSÃO:

 
Chiziane, em uma entrevista diz: “Eu nasci no chão, eu venho do chão, então é o chão que eu conheço, mais nada, e é esse chão que eu vou escrever” (LEITE, 2012, p. 185), demonstrando a cumplicidade que tem com a escrita, e muito mais, demonstrando ser parte dela. É como se, para ela, escrever fosse algo natural, apenas um exercício de tradução do que seus olhos e seus pés passaram. A autora, agente intelectual e conhecedora da crítica pós-colonial, está longe de estar em uma posição de cumplicidade silenciadora, como a que ocorre com muitos intelectuais e é criticada por Spivak (2010). Segundo ela, a tarefa do intelectual pós-colonial é criar espaços para que o sujeito subalterno possa falar, e que quando o faça ele possa ser ouvido (SPIVAK, 2010, p. 85). Chiziane está bem próxima da tarefa de agenciadora entre falante e ouvinte, onde reproduz as experiências do sujeito subalterno que, segundo ela mesma, é fruto do chão que ela conhece.
Além do mais, Paulina Chiziane aproxima-se, com muita cumplicidade da voz feminina, e embora faça questão de se distanciar de um discurso feminista, possui um olhar agudo e sensível do lugar da mulher, que está muito longe da posição, muitas vezes impositiva e institucionalmente privilegiada do intelectual citado por Spivak (2010). Chiziane (2002) deixa muito claro o lugar que exerce na escrita, afirmando que:
Eu sou uma mulher e falo de mulheres, então eu sou feminista? é simplesmente conversa de mulher para mulher, não é para reivindicar nada, nem exigir direitos disto ou daquilo, porque as mulheres têm um mundo só delas e é isso que eu escrevi, e espero que isso não traga nenhum tipo de problemas, porque há ainda pessoas que não estão habituadas e não conseguem ver as coisas com isenção (Paulina Chiziane, Entrevista ao Maderazinco, 2002).
 
Niketche insere o leitor ao “mundo só delas” (CHIZIANE, 2002) através de uma linguagem muito peculiar, que é ao mesmo tempo oral e lírica, como se realmente fosse instaurada uma conversa entre mulheres, mas com espaços para adentrarmos ao universo íntimo dos pensamentos da mulher Rami. Transita-se, ao mesmo tempo, por uma certa indignação pela personagem que deseja e ama Tony, um homem infiel e grosseiro, e pela admiração que surge pela força advinda desta mesma personagem, que consegue reverter uma poligamia velada, enxergando a beleza de todas as “rivais”,  evoluindo com e através delas, desagregando assim, muitos padrões sociais perturbadores e conceitos patriarcais que foram potencializados pela estrutura do período pós colonial.
Inocência Mata, grande reconhecedora dos meandros pós-coloniais em narrativas africanas e defensora da necessidade de uma “descolonização sobretudo téorica”,  (MATA, 2014, p. 34), afirmará sobre a autora:
Paulina Chiziane trouxe para a ficção moçambicana uma visão feminina da realidade, melhor, uma visão dos meandros invisíveis, mas extremamente presentes no mundo tradicional que determinam a vida da mulher na sociedade tradicional (…). Paulina Chiziane nomeia o lugar incômodo da mulher em relação ao casamento, ao adultério, à poligamia, enfim, a condição feminina numa sociedade em que os limites da mulher estão traçados com as margens das proibições. De facto o que Paulina Chiziane diz fazer na sua obra é escrever “a realidade do seu mundo com todos os seus prazeres, mágoas, tristezas e frustrações (MATA, 2000, p. 136).
 
A grandiosidade e importância para a escrita feminina de Paulina Chiziane não está somente com o romance Niketche, mas também em seus outros romances, como em Balada de amor ao vento, pela sua maneira de escrever a realidade. Através da construção de personagens fortes, em sua maioria femininas, que transitam por temas problemáticos, Chiziane questiona a as relações marcadas pela tradição intensificada pela ideologia colonial .
Spivak (2010), ao abordar o espaço inquietante e silenciado da mulher no contexto pós-colonial, dirige um apelo final as mulheres intelectuais (como Paulina Chiziane por exemplo), pois afirmará que a elas cabem a tarefa de criarem espaços e condições de autorrepresentação e questionamentos, além de referenciarem o seu próprio lugar de enunciação e sua cumplicidade com esses questionamentos, como intelectual que são:
O subalterno não pode falar. Não há valor algum atribuído a “mulher” como um item respeitoso nas listas das prioridades globais. A representação não definhou. A mulher intelectual, como uma intelectual tem uma tarefa circunscrita que ela não deve rejeitar com um floreio (SPIVAK, 2010, p. 126).
 
É com olhar sensível frente às tradições que a mulher e intelectual Paulina Chiziane nunca rejeita esta tarefa, mas ao contrário, está sempre iluminando esta abertura pela voz (e porque não grito?) feminino.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 
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Acesso em: 15/05/2014.
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CHIZIANE, Paulina. Ser escritora é uma ousadia!!!. Entrevista ao Maderazinco. Revista Literária Moçambicana, [http:www.maderazinco.tropical.co.mz], 2002.
FRADE, Ana Maria Duarte. 2007. A corrupção no Estado pós-colonial em África. Duas visões literárias. Porto: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. Disponível em:  http://www.africanos.eu. Acesso em: 15/05/ 2014.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Stuart Hall e Liv Sovik (Orgs.). Tradução Adelaine La Guardia Resende et alii. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
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HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo – História, teoria, ficção. Tradução Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
LEITE, Ana Mafalda, CHAVES, Rita & APA, Lívia (Orgs.). Entrevista com Paulina Chiziane. Literatura e Vida. In: Nação e narrativa pós-colonial II: Angola e Moçambique, Entrevistas. Lisboa: Colibri, 2012.
MATA, Inocência.  A condição pós colonial das literaturas africanas de língua portuguesa: algumas diferenças e convergências e muitos lugares comuns. In: Contatos e ressonâncias literaturas africanas de língua portuguesa. Angela Vaz Leão (Org.). Belo Horizonte: PUC Minas, 2003.
MATA, Inocência. Paulina Chiziane: uma colectora de memórias imaginadas. In. Metamorfoses 1. Lisboa: Cosmos, 2000, p. 135-142.
MATA, Inocência. Estudos pós-coloniais: desconstruindo genealogias eurocêntricas. Dossiê Diálogos do Sul. Civitas, Porto Alegre: v. 14 no 1, p. 27-42, jan./abr. 2014 Disponível em:
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SHOHAT, Ella. Crítica da imagem eurocêntrica. Tradução: Marcos Soares, São Paulo: Cosac Naify, 2006.
SHOHAT, Ella. Notes on the “Post-Colonial”. Social Text, no 31/32, Third World and Post-Colonial Issues, Duke University Press, p. 99-113, 1992. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/466220.
SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno falar?  Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.