Autor: Nélida Piñon
Título: A força do destino, La force du destin
Idiomas: port, fra
Tradutor: Genevi?ve Leibrich(fra)
Data: 29/12/2004
I
Nélida Piñon
La fruite avait été préparée minutieusement. Alvaro avait demandé à Leonora de n?oublier aucun des détails notés sur la fiche de blanchisserie. L?essentiel est que ton père ne s?aperçoive de rien, les nobles sont immanquablement retors et doués d?un grand pouvoir de perseuasion. Les deux amants savaient que le vieux gentilhomme s?opposait à leur union. Outre l?amour d?Alvaro, Leonora pouvait compter sur la loyauté de as servante Curra, censée l?accompagner dans as fruite. Car jamais Leonora ne pourrait se passer de ses services; chaque matin, Curra lui apportait une bassine d?eau chaude, ses ablutions traînaient interminablement.
Le sang des amants s?échauffait tellement au fil des heures – on aurait pu se servir de la vapeur brûlante qui s?en dégageait pour préparer le thé – qu?ils décidèrent de fixer le rendez-vous pour minuit. Plus tôt, ils n?auraient pas bénéficié du concours de la lune. Et si nous remettions notre fugue à demain mardi, suggéra Leonora.
Demair les problèmes seront les mêmes, sans parler du supplice de l?attente amoureuse, Alvaro s?efforçait de dissiper les doutes de Leonora. Si nous ne décampons pas d?ici, jamais nous ne pourrons être l?un à l?autre. Et si nous nous aimions ici-même, Alvaro, dans le jardin, comme de simple culs-terreux? Je t?en prie, Leonora, ne me casse pas les pieds veux-tu. Comment ferais-je de toi ma femme si nous ne quittons pas au moins les domaines de ton père. Tu ne t?imagines tout de même pas que je vais te baiser dans l?ombre redoutable de ta maison invencible.
Alvaro avait l?air si soucieux que Leonora finit par céder. Ok, Alvaro. En ce temps-là, il y a deux siècles, la seule solution pour une fille c?est de contrarier la volonté de son père en s?enfuyant avec son fiancé. Mais qu?adviendra-t-il plus tard, lorsque l?heure de la misère aura sonné?
Curra était prévoyante. A sa naissance, elle savait déjà qu?elle serait la servante de Leonora, avant même que celle-ci n?eût vu le jour. Elle en était presque arrivée à frapper à la porte du ventre de la marquise de Calatrava pour accéléres la venue de celle qui allait recevoir le prénom de Leonora sur les fonts baptismaux. Curra mourait d?envie de prendre ses fonctions, elle rêvait surtout d?asperger de parfum les mou choirs de soie.
Quand elle fut mise au courant du projet de fruite, elle réfléchit longuement à ses devoirs. Devrait-elle dérroncer Alvaro aux sbires du marquis, ou bien, de son propre chef, injecter du poison dans le postérieur de Leonora de façon à lui paralyser les jambes et l?empêcher ainsi de répondre au sifflement de son amant en faction près du portail?
Nuit après nuit, elle arpenta les couloirs du palais, délibérant, s?efforçant de deviner quel serait le meilleur destin pour Leonora. Puisque Leonora aimait Alvaro et que le marquis ne voulait pas entendre parler d?Alvaro, Curra décida que le mieux serait de suivre les amants, plutôt que d?être abandonnée dans le palais, comme un meuble rare de plus à partager entre les héritiers après la mort du marquis. Elle n?oublia pas de fourrer dans un balluchon les plus beaux joyaux de la famille. Elle passa toute une aprèsmidi à les choisir. On eût dit um diamantaire tant ses yeux calculaient rapidement la valeur de charque pierre sur le mande d?Amsterdam, pour le cas où les amants et elle échoueraient un joeir dans cette ville.
Alvaro se sentait l?âme d?un Anglais, non pas à cause de son habillement, mais en raison de son ardeur à consulter as montre de gousset, il était miniut pile.
Il dut encore attendre Leonora une bonne dumiheure. Quand elle arriva enfin, feignant d?avoir couru, énervée – elle n?avait pas trouvé la clé de son bonheur à venir – au lieu de prendre la poudre d?escampette les deux amants perdirent um temps infini à échanger des serments, Alvaro jurant je t?aime, Leonora exagérant ses craintes.
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Fonte: PIÑON, Nélida. La force du destin. Traduit du brésilien par Geneviève Leibrich. Paris: Des Femmes, 1987.
A FORÇA DO DESTINO
I
Nélida Piñon
A fuga foi minuciosamente planejada, Álvaro pedia que Leonora não esquecesse os detalhes apontados no rol de roupa. O importante é teu pai não descobrir; a nobreza é sempre esperta e convincente. Ambos sabiam que o velho nobre opunha-se aquela união. Leonora tinha a seu favor, além do amor de Álvaro, a lealdade da criada Curra acompanhando-a na fuga. Jamais dispensaria seus serviços, já pelas manhãs trazendo-lhe a bacia de água quente, as abluções arrastavam-se por longos minutos.
O sangue dos dois esquentava-se tanto ao passar das horas, poderiam até preparar o chá com o seu vapor, que marcaram o encontro para a meia-noite. Mais cedo, não teriam contado com o socorro da lua. E se deixarmos para amanhã. Terça-feira, disse Leonora.
Amanhã, enfrentaremos os mesmos problemas, sem contar com os males do amor, Álvaro queria cancelar-lhe as duvidas. E se não for assim, jamais nos uniremos. E se nos amássemos no jardim mesmo, Álvaro, como a doce plebe? Por favor, Leonora, não enche, sim. Como vou faze-la minha mulher, se não abandonamos ao menos as propriedades do teu pai. Não pense jamais que vou trepar sob o poder da tua casa invencível.
As dificuldades do mancebo estampavam-se no rosto, afinal Leonora deu-lhe ganho de causa. Ok, Álvaro, nestes tempos de dois séculos atrás, não pode a mulher fazer outra coisa senão contrariar a vontade paterna fugindo com o noivo. Mas, como será mais tarde, no tempo da miséria?
Curra era previdente. Nasceu sabendo que ia ser criada de Leonora, antes também que ela nascesse. Só faltou bater à porta do ventre da Marquesa de Calatrava, para acelerar o nascimento de quem, na pia batismal, haveria de ganhar o nome de Leonora. Ansiava em desempenhar suas funções, espargir especialmente perfume sobre os lenços de seda.
E, sabedora da fuga, muito meditou sobre seus deveres. Se devia denunciar Álvaro aos esbirros do marquês, ou de iniciativa própria espetar nas nádegas de Leonora veneno que, imobilizando-lhe as pernas, a impedisse de atender ao assovio do amante à porta?
Durante noites venceu os corredores do palácio tentando descobrir que destino seria melhor para Leonora. Uma vez, porém, que Leonora amava Álvaro, e não era Álvaro desejado pelo marquês, decidiu que melhor seria segui-los, antes que a deixassem no palácio, como mais um móvel raro a partilhar-se entre os herdeiros, após a morte do marquês. Cuidou em recolher numa trouxa as melhores jóias da família. Gastou uma tarde na seleção. Seus olhos pareciam de joalheiro, pois lhe diziam rapidamente o valor de cada uma delas no mercado de Amsterdã, caso fossem parar ali.
Álvaro sentiu-se inglês, não pelos trajes, mas conferindo o relógio, meia-noite em ponto. Teve que esperar Leonora meia hora ainda. E quando ela veio fingindo que corria nervosa, não havia encontrado a chave a indicar-lhe a felicidade, perderam-se por muito tempo em juras, ele pronunciava amor, ela exaltava o temor, em vez de botarem as pernas no mundo.
O que será de minha honra, Álvaro? Que honra, Leonora, casando-se comigo você recupera automaticamente a honra perdida com a fuga. É uma questão só de horas. Leonora abraçava-o aflita, não será fácil, você precisa compreender a virgindade de uma mulher, é um castelo com ponte levadiça, só se ergue com a autoridade do rei. E daí, maiôs difícil será se ficarmos aqui, os lamentos só fazem crescer as águas do rio, elas transbordam e quem há de beneficiar-se com tais exageros? Mas, Álvaro, dar o primeiro passo para deixar a donzela é sempre doloroso, é como enfiar a adaga no peito autoritário e bondoso do pai.
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Fonte: PIÑON, Nélida. Força do destino. 3? ed, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.